O nome de Oscar Grant diz-lhe alguma coisa? Provavelmente não. E o de Rodney King? É mais provável que lhe diga. Rodney foi um taxista afro americano que se tornou globalmente conhecido depois de ter sido ter sido agredido pela polícia de Los Angeles, e ficou associado aos violentos motins raciais desencadeados pela absolvição dos polícias envolvidos na agressão. Oscar, um jovem afro americano de 22 anos, é menos conhecido, mas as circunstâncias em que morreu provocaram um sentimento de consternação nos Estados Unidos – ele mortalmente baleado por agentes de segurança que estavam de serviço na noite da passagem de ano de 2008 para 2009 numa estação de metro da baía de São Francisco. Ryan Coogler, um jovem realizador de 27 anos, que cresceu naquela zona e foi seguramente tocado pelo caso, decidiu recordar este homicídio, encenando o desfecho trágico na estação de Fruitvale, em Oakland. Neste filme, quem não conhece muito sobre este homicídio fica a saber ao que vai desde o primeiro plano, porque o realizador optou por mostrar logo no início um dos muitos vídeos amadores que registaram em telemóvel a atuação intimidatória das forças de segurança – tratou-se de uma ocorrência na madrugada de passagem de ano e muitas pessoas circulavam no metro naquela ocasião. Esse enquadramento prévio define o tom trágico de todo o filme onde Coogler reconstitui as derradeiras 24 horas na vida de Oscar (Michael B. Jordan), mostrando a sua vivência com a filha de 4 anos, a mãe e a mulher. Ele é retratado com um individuo que tem um passado conturbado (esteve preso e foi despedido por chegar atrasado) e que tem falhas de comportamento. Mas nesse dia Oscar sente que pode mudar algumas atitudes e esforça-se por ser agradável com os seus familiares. Coogler filma assim esse quotidiano familiar caloroso num registo documental e observando cuidadosamente os pequenos pormenores do dia a dia. O seu olhar procura ser distante, rigoroso, sem revelar compromisso político, nunca deixando que a raiva que possa sentir tolde a sua perspetiva. Coogler não necessita de acentuar a questão racial nem os elementos sentimentalistas da narrativa porque a tensão da tragédia está instalada nessas cenas do quotidiano desde que o vídeo com os acontecimentos trágicos é mostrado no início. É como se fosse um vídeo viral que contamina a narrativa do filme. Ao encontrar esse equilíbrio entre a brutalidade do que sucedeu e a normalidade daquele dia, «Fruitvale Station» consegue retratar a condição de um cidadão comum que foi abatido num ato estúpido em vez de glorificar essa vítima. Oscar Grant não é Rodney King, nem se tornou num mártir. E felizmente «Fruitvale Station – A Última Paragem» não contribuiu para isso.

Título original: Fruitvale Station Realização: Ryan Coogler Elenco: Michael B. Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer Duração: 85 min EUA, 2013

[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº18, Março 2014]

https://www.youtube.com/watch?v=tkDr6RmQnOU
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