Um velho conhecido chegou com pompa e circunstância à Skyshowtime Portugal. «Frasier» entrou no edifício e nada será como antes: novos rostos e novos desafios estão à espreita.
Em 1984, na terceira temporada de «Cheers», Frasier Crane (Kelsey Grammer) deu os primeiros passos no pequeno ecrã… em Boston. Quase 40 anos depois, a personagem regressa à cidade para o reboot de «Frasier», que recebe o mesmo nome que o spin-off que consolidou, ainda mais, a presença de Grammer no pequeno ecrã. Entre 1993 e 2004, a série, passada em Seattle, retratava o quotidiano do protagonista, entre uma vida familiar sobressaltada e a carreira de “psiquiatra da rádio”.
Após a morte do pai, Frasier decide deslocar-se a Boston, onde se encontra com o amigo Alan Cornwall (Nicholas Lyndhurst) e o filho Freddy (Jack Cutmore-Scott). Atualizando o público em relação à sua nova vida, o protagonista expõe as suas fragilidades e a situação mal resolvida com o filho, bombeiro. Embora, inicialmente, pensasse apenas numa visita breve, as interações levam Frasier a resolver ficar na cidade, mudando-se para o apartamento à frente de Freddy.
Com algumas reticências por causa da ausência de figuras marcantes da série original, «Frasier» tenta replicar dinâmicas da série original, a partir de personagens com características idênticas a velhos conhecidos da audiência. O filho de Niles (David Hyde Pierce), David (Anders Keith) é a imagem do pai; enquanto Eve (Jess Salgueiro) desempenha, parcialmente, o papel que Daphne (Jane Leeves) tinha na série original. Já Olivia (Toks Olagundoye) é a principal responsável pela nova dinâmica profissional de Frasier, sendo também um dos motores de um certo humor mais “seco” e situacional.
As novas interações resultam bem, ainda que seja necessário “esquecer” as referências do passado, de forma a ver o que a série traz de novo. Não será imediato, até pela repetição cíclica de alguns truques sobretudo humorísticos, mas «Frasier» revela um lado desconhecido do seu protagonista, nomeadamente em choque com o filho e a difícil rotina em que agora está mergulhado.
Da mesma forma, «Frasier» é também uma narrativa sobre mágoa e perda, abordando as fraquezas das personagens e a vertente humana que pauta os seus comportamentos e traumas. Mais velho e com outras preocupações em mente, Frasier Crane mostra que ainda é possível evoluir e mostrar lados até então desconhecidos. Uma continuação que, certamente, não agradará a todos, mas cumpre aquilo a que se propõe.
[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº100, Dezembro 2023]
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