«Força Maior», do sueco Ruben Ostlund, é um drama familiar desenrolado nos Alpes franceses. Sobre o manto branco da paisagem idílica gera-se um pesadelo existencial para um casal de classe média-alta. Quando chegam à estância de ski com os seus dois filhos eles preparam-se para desfrutar cinco dias de qualidade longe do trabalho, mas logo no segundo dia, enquanto lancham na esplanada do resort, uma pequena avalanche controlada põe em marcha uma gigantesca derrocada emocional. A reacção de Tomas (Johannes Bah Kuhnke), o marido, perante o perigo iminente não é exactamente a de um herói. A situação, que afinal não passa de um susto, torna-se em definitivo a prova de que algo não está bem. O hiato entre as expectativas e a realidade foi aberto e a tensão familiar rapidamente contamina outros personagens do filme. «Força Maior» é uma observação implacável sobre a dinâmica matrimonial, o machismo, a calma depois da tempestade e o levantar do véu sobre a família perfeita. O astuto paralelismo entre o frágil controlo das forças naturais e humanas é conseguido através da realização de Ostlund que contrapõe as imagens da convulsão do casal com a luta do homem versus a montanha, com os sons e imagens das explosões controladas na delicada manutenção do equilíbrio natural. Um drama bem realizado e bem interpretado, perspicaz no seu subtexto.
Título original: Turist Realização: Ruben Östlund Elenco: Johannes Kuhnke, Lisa Loven Kongsli, Clara Wettergren, Brady Corbet Duração: 110 min. Suécia/França/Noruega, 2014
[Texto originalmente publicado na Revista Metropolis nº35, Fevereiro 2016]
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