Matt Dillon nos acordes de Donostia
Rodrigo Fonseca em San Sebastián
Elogia-se muito a seleção competitiva do Festival de San Sebastián – em especial, «Arthur Rambo», de Laurent Cantet – nas conversas de corredor do festival espanhol, em que se fala muito sobre o paradeiro dos bons filmes da edição de 2020, visto que muitos ficaram inéditos. Matt Dillon, ator americano indicado ao Oscar por «Crash», em 2006, foi um dos diretores (no seu caso, um estreante na realização de filmes documentais) que passaram pela cidade ibérica no ano passado e não teve o seu trabalho – «El Gran Fellove» – lançado em escopo global.
“Documentários permitem-nos dar uma segunda de mão de poesia a situações lúdicas do dia a dia”, disse Dillon à METROPOLIS em 2020.
Celebrizado na década de 1980 pela sua rebeldia no papel de Rusty James, em «Rumble Fish – Juventude Inquieta», Dillon ostenta uma sensualidade que arrancou elogios de Caetano Veloso. O cantor e compositor uma vez disse que o devoraria. Hoje com 57 anos, Dillon terá o seu rosto (em sua mirada juvenil) projetado nas telas de San Sebastián numa projeção de uma versão directors cut do drama «Os Marginais» [«The Outsiders»] (1983), de Francis Ford Coppola. Mas todos perguntam sobre o filme sobre Fellove. Filme pelo qual Dillon saiu da Espanha consagrado, por um papel inusitado: o de documentarista. «El Gran Fellove» é o primeiro trabalho dele como diretor de narrativas documentais, tendo a música cubana como foco. A narrativa de Dillon se debruça sobre a história do cantor Francisco Fellove (1923-2013), que deixou Havana e partiu para o México nos anos 1950, retornando para seu país em 1979, sem rever o mesmo sucesso.
“Lembro muito do empenho dele para gravar um disco. Fellove foi um herói à sua época, ao desafiar a pobreza e os interditos à realidade onde nasceu, firmando-se pela beleza de sua música”, disse Dillon à METROPOLIS, em San Sebastián, quando revelou-se um expert em ritmos latinos. “Compro discos desde os 12 anos, mas não como colecionador, para aumentar a minha discoteca. Compro tudo o que posso por ser um curioso dos diferentes ritmos musicais. Cheguei a Fellove numa dessas buscas por boa música e encantei-me com o seu ritmo”
Dillon conheceu Fellove em Nova York, em 1999, e filmou-o enquanto gravava um disco, até hoje inédito. “Ele tinha um cantar singular e sonhava imortalizar esse canto na indústria fonográfica. A história dele me revela muito dos artistas negros que enfrentaram preconceitos buscando aceitação”, diz Dillon, que arrebatou a plateia ao reunir imagens de arquivo raras da cena musical de Cuba e do México nas décadas de 1950 e 60. “A Minha trajetória como ator me deu subsídios afetados para a forma de abordar os meus entrevistados”.

Esta manhã, a diretora peruana Cláudia Llosa (de «A Teta Assustada») deu a San Sebastián uma aula de direção e um estudo sobre as novas potencialidades para o cinema de género – ligado ao Além – com o thriller «Distancia de Rescate» (2021). Na trama, um incidente com o corpo de um menino, provocado por veneno, mantém o seu espírito preso a este mundo, afetando a vida de duas mulheres.