Buñuel renasce nas telas e livrarias de Espanha
Rodrigo Fonseca no Festival de Cinema de San Sebastián

Livrarias por todos os cantos da Espanha, de uma loja de esquina de Bilbao a uma megastore de Barcelona, estão a vender (a bons preços) a edição de luxo que a Taschen imprimiu para radiografar o legado do diretor Luis Buñuel (1900-1983) nas telas. A reedição de «Viridiana», numa comemoração dos 60 anos da Palma de Ouro de 1961, fez os livreiros ibéricos farejarem bons negócios na obra do mestre aragonês, que também agitou o 69. Festival de San Sebastián, no norte dos nossos vizinhos. No fim de semana, o festival reviu a sua obra a partir de um doce documentário de Javier Espada, que aborda as reflexões filosóficas do realizador. Esta quinta-feira, é vez do evento hispânico rever a animação «Buñuel en el laberinto de las tortugas», longa-metragem inspirado na novela gráfica homónima de Fermín Solis.

A sua trama relembra o quanto o génio por detrás de «A Bela da Tarde» (1967) enfrentou intolerâncias, das mais diversas ordens, para continuar a filmar, após uma onda de repressão relativa ao lançamento de «A Idade do Ouro», em 1930. A ironia deste filme de juventude de Buñuel despertou uma torrente de ódio que quase embotou a sua carreira. A sua luta para se manter por detrás das câmaras, dirigindo o mítico «As Hurdes: Terra sem pão» («Las Hurdes», 1933), virou a argamassa da (já aclamada) animação dirigida por Salvador Simó. Um concorrido técnico de efeitos especiais de Hollywood, com filmes como «O Livro da Selva» (2016) no currículo, Simó ganhou o Prémio Especial do Júri no Festival de Annecy (a Cannes do setor), em 2018, além de uma láurea de melhor trilha sonora, por sua imersão nas memórias buñuelianas.

BUÑUEL, UN CINEASTA SURREALISTA (© Talocha]

Na trama animada por Simó, com base nos desenhos de Solis, o mítico cineasta é alvo de ataques da imprensa ao ser encarado como um herege o que prejudica seu trabalho. Quando um amigo, artista plástico, ganha um rico prémio na lotaria, o cineasta recorre ao dinheiro do colega para voltar a rodar, indo para os confins mais miseráveis de Espanha a fim de retratar uma população em luta com a pobreza.

Na competição oficial pela Concha de Ouro, a França surpreendeu San Sebastián mais uma vez – depois do febril «Arthur Rambo», de Laurent Cantet – com «Vous ne désirez que moi», uma narrativa em forma de entrevista, que entrelaça cenas de arquivo e desabafos encenados. A direção é de Claire Simon. A inspiração que guia esse experimento (saboroso) é a relação entre a escritora Marguerite Duras (1914-1996) e um de seus últimos namorados, Yann Andréa (1952-2014), 38 anos mais jovem do que a autora de «O Amante» (1984).

O Festival de Cinema de San Sebastián chega ao fim no sábado, com a entrega de seus prémios anuais.

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