Antes de mais, «Evil Dead» é conhecido em Portugal como «A Noite dos Mortos Vivos», mas é importante não confundir com «A Noite dos Mortos Vivos», de George A. Romero. São coisas diferentes, apesar de estarem ambos no panteão dos clássicos.

«Evil Dead» estreou em 1981 e é fruto do esforço colectivo de uma cambada de miúdos com pouco dinheiro e muito talento. À cabeça dessa cambada estava o trio Robert Tapert, Sam Raimi e Bruce Campbell. O primeiro assumiria o papel de produtor, o segundo de realizador e o terceiro, por ser o mais bem parecido do grupo, seria o actor. Assumindo-se todos como cromos do cinema e influenciados por vários clássicos de baixo orçamento dos anos 70, os miúdos deitaram mãos à obra e começaram por fazer várias curtas-metragens em 8mm. Eventualmente, as aspirações cresceram e Sam Raimi, com 20 anos, decidiu dar um salto de fé e propôs-se a realizar a sua primeira longa-metragem em 35mm. Como qualquer filme começa com uma história, Raimi e amigos conceberam uma premissa muito simples: cinco amigos em férias passam uma noite nunca cabana isolada num bosque e despertam demónios ancestrais que os vêm aterrorizar. Parece vulgar, principalmente nos dias de hoje, mas a verdade é que todos os filmes do género feitos desde então acabam sempre comparados a «Evil Dead».

Para conseguir financiamento, Raimi realizou uma curta-metragem a partir desta premissa, intitulada “Within The Woods”, uma espécie de versão condensada do que se propunha fazer em “Book Of The Dead” (o título provisório antes de acabar baptizado como «Evil Dead»). À conta dessa curta, Raimi conseguiu seduzir uns quantos investidores e pediu um empréstimo bancário. Pouco tempo depois estava a fazer audições para o elenco na cave dos pais. Decidido o elenco e a equipa técnica, saíram do Michigan e encaminharam-se para o Tennessee onde, supostamente, as condições meteorológicas seriam melhores. No entanto, para azar de todos, o tempo pregou-lhes uma partida e o inverno de 1979 revelou-se um dos anos mais frios de sempre no Tennessee (enquanto que no Michigan não estava assim tão mau quanto esperavam). Mas esse foi apenas um dos muitos percalços que a equipa sofreu. Consta que as filmagens foram penosas a todos os níveis, desde a falta de electricidade, água e aquecimento, até ao orçamento limitado que obrigava a que os actores ficassem com a maquilhagem dias a fio. Apesar das condições, Sam Raimi proclamava que a sua criatividade florescia quando podia torturar os seus actores. E, de facto, «Evil Dead» destaca-se pela dita criatividade encontrada na realização, sobretudo no que toca a movimentos de câmara, inovadores para a altura e que acabaram por inspirar gerações vindouras de cineastas.

Na sua estreia em cinema, «Evil Dead» foi considerado demasiado gore e chocante e acabou banido em muitos países, mas a sua popularidade explodiu quando chegou aos videoclubes. Popularidade essa que se mantém ainda hoje, fazendo de «Evil Dead» um marco incontornável na história do cinema, em particular no submundo dos filmes de terror. MARCO OLIVEIRA

Título Original: The Evil Dead Realização: Sam Raimi Elenco: Bruce Campbell, Ellen Sandweiss, Richard DeManincor Duração: 85 min. EUA, 1981

[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº94, Junho 2023]

https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=NL6mioAlpJk
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