A partir do principio que a guerra é uma droga Kathryn Bigelow («Estranhos Prazeres»,1995) realiza um filme absolutamente viciante e senhor de uma carga de adrenalina raramente vista nos ecrãs. Uma obra que nos coloca no epicentro dos acontecimentos, o enredo segue as pisadas de três militares americanos especializados em desarmar engenhos explosivos artesanais no Iraque, vivem intensamente cada momento em decisões onde está em jogo a vida e a morte, a magia de Bigelow faz o resto e atira o espectador para a linha da frente de combate, a audiência torna-se no elemento invisível desta unidade. A missão destes soldados torna-se mais vertiginosa quando o seu líder, James um viciado na adrenalina de guerra coloca em perigo com a sua atitude kamikaze os companheiros Sanborn que possui uma abordagem racional perante o caos e Owen, o mais novo do grupo e que está dividido entre as diferentes atitudes dos colegas, nos vários cenários de guerra explora-se e sente-se à flor da pele a natureza do conflito e as fragilidades destes homens. O argumentista Mark Boal acompanhou das tropas americanas durante a mais recente invasão do Iraque, concebe um argumento minimalista num orgânico filme de guerra com um excelente trabalho de actores que expõe sentimentos reais num clima de alta tensão com a realização a 360º de Bigelow vai transparecer no ecrã a sensação que nada escapa ao espectador. Realce para o excepcional trabalho de fotografia de Barry Ackroyd («Voo 93», 2006), estampa a sua experiência de documentarista ao destilar na ficção uma sensibilidade real conferindo um olhar humano a todos os ângulos do conflito. O registo não entra por caminhos políticos e a sua natureza torna-o no melhor filme sobre a guerra no século XXI, quando a poeira assenta surge a anatomia de um clássico com uma direcção majestosa, excelentes interpretações, afirmações certeiras e uma acção literalmente explosível. Esta admirável produção independente, filmada na Jordânia com meios limitados reflecte na perfeição um sentimento de tridimensionalidade criando uma invulgar experiência cinematográfica imprópria para cardíacos.

Título original: The Hurt Locker Realização: Kathryn Bigelow. Elenco: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty. 131 min. EUA, 2008

[Texto originalmente publicado na revista Premiere em Fevereiro de 2010]


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