«Emma» (2020) é uma adaptação do apreciado clássico literário de 1815 de Jane Austen que deliberadamente foge ao espírito da autora inglesa no que concerne à construção da protagonista e do seu par. O filme elimina do romance a questão da diferença de idades que encontramos no coração do livro, criando dois personagens mais adultos e ligeiramente mais responsáveis que fazem eco nos espectadores do século XXI. É uma obra competente na recriação colorida de época, nas desventuras românticas e nas relações de Emma Woodhouse (Anya Taylor-Joy) e a sua extensa entourage. A protagonista vive pejada de luxos com o seu pai hipocondríaco (delicioso Bill Nighy) numa requintada mansão e tem fama de ser uma exímia casamenteira. Nesta adaptação, Emma é uma personagem poderosa e emancipada – o contrário de uma flor de estufa – e dedica-se a arranjar um bom partido para Harriet Smith (Mia Goth). Nesse processo Emma vai ela mesma descobrir o amor sendo igualmente forçada a confrontar a sua responsabilidade no mundo das relações e dos afectos através do seu diálogo romântico com o Sr. Knightley (Johnny Flynn). Anne Taylor Joy continua a provar que é uma actriz completa, em 2020 também fez o seu one woman show em «Gambito da Rainha», e Johnny Flyn está seguro na sua interpretação, é sem dúvida um actor muito interessante e multifacetado que também assina um dos temas musicais do filme. A direcção de produção fica na retina: guarda-roupa, cenários, adereços, maquilhagem e até a comida têm um aspecto deslumbrante. O filme é extenso, uma óptima estreia na realização de longas-metragens de Autumn de Wilde, mas também deveremos tirar o chapéu ao argumento mordaz e contemporâneo de outra estreante, a neozelandesa Eleanor Catton (vencedora do Man Booker Prize em 2013).
Título original: Emma Realização: Autumn de Wilde Elenco: Anya Taylor-Joy, Johnny Flynn, Mia Goth, Gemma Whelan, Bill Nighy, Rupert Graves. Duração: 124 min. Reino Unido, 2021
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