[Crítica originalmente publicada na revista Metropolis nº20, Junho 2014]
O maio de ’68 está longe de ser um tema esgotado no cinema. Olivier Assayas retoma a evocação da década de 70 num filme onde retrata a geração que experimentou e viveu o único período revolucionário francês do século XX. «Depois de Maio» é um filme de memória, de certa forma centrado na vivência e experiência pessoal do realizador, e onde podemos observar um período radical onde a juventude se movia por ideais.
Os tempos de convulsão são vividos por quatro personagens que partem de Paris para diferentes pontos da Europa, em pleno verão de 1971. Estes jovens envolvem-se de forma diversa na dinâmica dos acontecimentos e assumem a responsabilidade política do contexto social em que vivem.
Ao retratar essa época e essa juventude, Olivier Assayas celebra o movimento underground que se exprimiu através do cinema, das artes plásticas, da música e da resistência política organizada clandestinamente. Há uma perspetiva pragmática na evocação da dinâmica da época e de um movimento de contracultura que foi socialmente relevante na definição de ideais e princípios que marcaram o século passado.
É uma perspetiva muito original porque “Depois de Maio” assume um tom melancólico e triste, que espelha muito bem o momento em que uma geração viveu experiências intensas, como a libertação sexual, e que favoreceram descobertas muito marcantes e ruturas decisivas.
Este é o tempo “histórico” no cinema de Assayas. «Depois de Maio» sucedeu à obra biográfica sobre Carlos, o chacal, um terrorista que é um filho deste tempo e cuja ação política marcou as décadas seguintes, de 70 e 80, depois do maio de ’68. Embora não exista qualquer continuidade ou sequência, é interessante pensar nos dois filmes em conjunto, porque ambos têm bons valores de produção na reconstituição de época, personagens bem definidas, e um enorme cuidado no tratamento da narrativa romanesca como aproximação ao tempo histórico.
Título original: Après mai Realização: Olivier Assayas Elenco: Clément Métayer, André Marcon, Lola Créton. Duração: 122 min. França, 2012