Depois de cataclismos vários e de níveis de poluição que tornam a Terra inabitável, os humanos vêem-se obrigados a fugir e a procurar exílio num outro planeta distante chamado Nova Prime. O inconveniente é que, chegados lá, como acontece quase sempre, “outros” reclamam para si o mesmo pedaço de chão. Ao longo de 1000 anos!, como nos conta Kitai (Jaden Smith) em voz off e através de flashbacks tão ilustrativos quanto genéricos, os humanos lutaram pela sobrevivência contra esses extraterrestres – seres a quem não conhecemos a face, a não ser no reflexo monstruoso das armas que usam: Ursas, predadores cegos, treinados para caçar humanos através da detecção das feromonas que libertamos quando temos medo, literalmente, através do cheiro do medo.

Quase um milénio sob esta terrível ameaça permanente que mais uma vez quase levou a espécie humana à extinção, o melhor que a espectacular elite militar dos Rangers consegue inventar é uma técnica apelidada de “ghosting”, que consiste na total inibição do medo, o que permite aos militares desaparecer do radar da Ursa, colocando-os assim em suposta vantagem (peritos em teletransporte, os Rangers desconhecem no entanto as potencialidades dos drones ou dos desodorizantes…). O guru desta técnica, é claro, é o pai de Kitai, o general Cypher Raige (Will Smith, pai de Jaden Smith) visto como herói, idolatrado pelo filho e por todos à sua volta, excepto talvez pela esposa, Faia (Sophie Okonedo), que procura nele algo mais que um comandante imperturbável, um marido e pai ausente.

Numa breve cena, das poucas que retrata a intimidade do casal, Cypher manifesta a sua vontade de recuperar os laços quebrados com a família e, também por isso, decide levar Katai consigo naquela que seria a sua última missão antes do pedido de reforma. Mas, como é evidente, a missão sofre um inesperado revés e pai e filho acham-se na condição de únicos sobreviventes de uma aterragem forçada num planeta sob quarentena Classe 1, ou seja, o perigoso planeta Terra, onde tudo “evoluiu para matar humanos”. Para complicar ainda mais a situação, Cypher fica gravemente ferido no acidente e cabe ao jovem e ansioso Kitai provar que consegue superar os seus medos e ganhar o respeito do pai.

Esta história, em que pela primeira vez o realizador Shyamalan não é em simultâneo o criador ou argumentista original (a ideia é de Will Smith e o argumento de Gary Whitta), parecia ter o potencial necessário para uma história forte de nuances míticas. O que é curioso é como todos estes aspectos promissores (a criação de um novo mundo, os rituais de passagem, o medo como o calcanhar de Aquiles das sociedades modernas, ou os efeitos da mediação tecnológica nas relações entre humanos, etc.), não passam de elementos contextuais num filme que, sem surpresas nem suspense, nos arrasta durante demasiado tempo atrás de um miúdo impreparado e desobediente, a quem a sorte sempre surge como a melhor aliada no último minuto.

À semelhança de «O Último Airbender» (2010), «Depois da Terra» não consegue fazer aquilo que está sempre a repetir como necessário, isto é, não consegue enraizar-se no momento, na realidade. Em última análise, o filme, em sintonia com a sua frágil personagem central, Kitai, aquilo que faz bem é correr, fugir para a frente.

Título original: After Earth Realização: M. Night Shyamalan Elenco: Will Smith, Sophie Okonedo, Zoë Kravitz, Jaden Smith. Duração: 100 min. EUA, 2013

[Crítica publicada originalmente na revista Metropolis nº11, Agosto 2013]

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