François Ozon regressa aos grandes registos, está acutilante e absolutamente cerebral em «Dentro de Casa». Um lugar onde a ficção esbate-se com a realidade, o poder e a perversão da palavra hipnotizam personagens e deixam siderados os espectadores perante um tremendo exercício de criatividade. A casa e a urgência do amor são lugares centrais no enredo, neste caso a necessidade de fazer parte de um lar. Cedirc (Ernst Umhauer) é um rapazinho na última fila de uma turma de literatura de um liceu francês. O seu professor está frustrado perante o vazio dos seus pupilos mas Cedric vai seduzi-lo com a sua escrita e penetrar em lugares sagrados. Ele escreve para o professor sobre as incursões no seio do lar de um colega de turma. Nesse terreno de intimidade familiar e afectiva serão testadas a força, invenção, a paixão e a determinação de aluno versus professor, entretanto transformado em voyuer por Cedric, e a manipulação do jovem perante união da família do colega. Realce para o primeiro papel a sério do jovem Ernst Umhauer (tinha 21 anos quando rodou a fita) e os apontamentos curiosos de Fabrice Luchini e Emmanuelle Seigner.
O filme na sua reflexão evolui de um dispositivo de narração teórica para a prática e subverte as convenções dramáticas, os códigos do cinema e o significado de visionar uma ficção. François Ozon pegou numa de vivências reais e criou um filme extraordinário.
Título original: Dans la Maison Realização: François Ozon Elenco: Fabrice Luchini, Ernst Umhauer, Kristin Scott Thomas, Emmanuelle Seigner, Denis Ménochet Duração: 105 min França, 2012
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº18, Março 2014]
https://www.youtube.com/watch?v=ttHEtFejtM4&t=104s