Do anime para o pequeno ecrã com pompa e circunstância, «Cowboy Bebop» quer reimaginar o que de melhor oferecia a série japonesa do final dos anos 90. Para desgosto da audiência e da crítica, fica-se pela intenção.
Voltamos à conversa do costume. Os canais e streamings continuam a tentar jogar pelo seguro, com apostas insistentes em fórmulas bem-sucedidas do passado, seja do cinema, da TV ou das comics. Ainda que a média diga que a tendência pouco tem compensado, a verdade é que, teimosamente, a cada novo leque de estreias lá vem um rol de sequelas, prequelas, reboots, etc. A Netflix não é exceção e entrega agora uma reinvenção de «Cowboy Bebop», com um protagonista e um universo muito queridos pelos fãs de anime. Mas, quando a concretização não convence, não há nostalgia que valha.
John Cho é o novo Spike Spiegel, no live action que procura ilustrar os feitos deste caçador de recompensas e dos seus companheiros pelo Espaço fora. O protagonista é introduzido com critério e alguma exuberância, interrompendo um assalto a decorrer num casino, com a ajuda do seu parceiro Jet (Mustafa Shakir). No entanto, depressa percebemos que a ação central do capítulo piloto é outra – uma droga misteriosa lança o pânico e Spike segue com Jet no encalço do responsável, contando com um obstáculo imprevisto: Faye Valentine (Daniella Pineda). Como depressa percebemos, a história do trio está longe de ficar por aqui.
Ainda que as storylines sejam interessantes, e apontem a similaridades com a série original, há pouca criatividade nos espaços onde se tenta inovar. As personagens são genericamente estereotipadas, robotizadas, e entregam-se pouco ao desenvolvimento da narrativa. A ação flui, assim, sem ritmo e demasiado suportada pelas ações de Spike que, embora protagonista, desequilibra totalmente «Cowboy Bebop». O Sindicato assume também aqui um papel fulcral, com uma ligação ao passado de Spike, mas nem o vilão (Alex Hassell) é suficientemente entusiasmante, caindo, novamente, no erro de caricaturizar em demasia o que se pretende da personagem.
A história de amor de Spike e Julia (Elena Satine) é entregue muito cedo na narrativa, sem que haja um trabalhar assertivo na sua concretização. Os flashes ocasionais, consolidados por “twists” cedo na ação, são criados demasiado no vazio, sem a consciência de que o espectador – nomeadamente aquele que vê «Cowboy Bebop» pela primeira vez – precisa de mais informação (e ligação às personagens) para manter o seu interesse. Isto porque não é um mistério suficientemente forte por si só, sendo até enfraquecido na sua conceção, e dando um lado mais irracional a Spike que, apesar de ser desenvolvido, é confuso a espaços.
Retiram-se, naturalmente, coisas boas da nova série da Netflix. Vista como um elemento isolado, sem expectativas que condicionem a sua receção, «Cowboy Bebop» é uma trama divertida q.b. e com capacidade de entreter a audiência. Esta é uma criação de Christopher L. Yost, envolvido em projetos como «Iron Man: Armored Adventures», «Star Wars: Rebels» e «The Mandalorian».