«Coco» é uma animação alucinante e mais um passo de maturidade no caminho que a fusão Disney Pixar vem traçando e desbravando no século XXI, um tempo para novas lições de vida numa sociedade em constante mudança. Depois de «Divertida-mente», que lida de forma original com as emoções, e «Zootrópolis», que aborda os valores da diversidade, «Coco» mergulha fundo na memória e realça a importância da família.

Com um pano de fundo latino, o que é pouco comum no universo da animação Disney, «Coco» afirma-se como uma carta de amor ao México. O gigante da animação surge com um projecto que teve quase uma década em gestação e onde o aspecto sociocultural não é descurado, reflectindo-se no colorido e nas coreografias musicais desta magnífica história. A porta de entrada deste enredo é um menino que tem uma grande paixão pela música, paixão essa que não é propriamente a prioridade da família de sapateiros. Quando ele entra em contacto com o que julga ser a guitarra do seu antepassado a criança é transportada para a “Terra dos Mortos” onde encontra os seus velhos familiares. O nosso pequeno herói vai tentar quebrar a maldição que o impede de seguir a música e, ao mesmo tempo, tentar voltar à “Terra dos Vivos”. No meio de todas estas aventuras, face à ambição desmesurada e ao sucesso a qualquer preço, ele descobre que nada é mais importante do que a família. «Coco» é uma caixinha de surpresas, e não se preocupem que não tem nada de tétrico! Os personagens são adoráveis e temos gags com fartura em torno destes deliciosos esqueletos.

A verdade é que «Coco» não falha uma nota, é um festival de luz e cor com uma história que abana os sentidos. Começa de mansinho, como tantas outras aventuras que perseguem o sonho, e vai aumentando a parada. Inesperadamente, para surpresa dos espectadores, o filme cruza géneros desarmando por completo a audiência, os risos são uma constante mas a história arranca lágrimas à calçada com a sua ternura desconcertante. O argumento de Adrian Molina e Matthew Aldrich é uma proeza e tiramos também o chapéu aos criadores Disney Pixar por acreditarem e valorizarem o público. A pedagogia está presente mas tudo se desenrola de um modo inteligente com o twist no último acto a encher-nos o coração. Os momentos musicais expressam uma melancolia que nos deixa com uma lágrima no canto do olho ao explorar temas como a memória, o amor paternal e a saudade.

«Coco» é um filme sobre a família para as famílias.

Título original: Coco Realização: Lee Unkrich, Adrian Molina. Elenco: Anthony Gonzalez, Gael García Bernal, Benjamin Bratt. Duração: 105 min. EUA/México, 2017

ARTIGOS RELACIONADOS
DIVERTIDA-MENTE 2

Crescer é um verbo vetorizado por sentimentos que podem descambar para o excesso, como é o caso da Ansiedade, vilã Ler +

A ACÓLITA

A Disney+ continua a expandir o universo Star Wars para nos revelar mais uma história original,  «A Acólita» é uma Ler +

O VÉU

Steven Knight e Elisabeth Moss dispensam apresentações, já que têm marcado o panorama televisivo (e não só) nas últimas duas Ler +

NELL, A RENEGADA

«Nell, A Renegada» ,da Disney+, marca o regresso com um estrondo de Sally Wainwright, uma das melhores argumentistas dos últimos Ler +

MORTE E OUTROS DETALHES

O Disney+ lançou em março o mistério whodunit «Morte e Outros Detalhes». A série, protagonizada por Violett Beane e Mandy Ler +

Deixa um comentário

Please enable JavaScript in your browser to complete this form.

Vais receber informação sobre
futuros passatempos.