O regresso de Blade Runner foi um dos acontecimentos cinematográficos de 2017. Assinado pelo canadiano Dennis Villeneuve e produzido por Ridley Scott, «Blade Runner 2049» (2017), foi protagonizado por Ryan Gosling, Robin Wright, Jared Leto e inclui uma participação especial de Harrison Ford, estrela do original, há mais de 30 anos. O legado do clássico, a origem do projeto atual, o argumento, o elenco e a construção dos cenários são alguns dos temas da conversa com o realizador do filme, Dennis Villeneuve.
O que explica o fascínio de fãs, realizadores e designers pelo filme «Blade Runner»?
DENNIS VILLENEUVE: Julgo que o primeiro «Blade Runner», quando estreou nas salas, provocou uma onde de choque mundial. Foi um choque coletivo. Para algumas pessoas foi positivo, pois ficaram deslumbradas, para outras foi terrível, ficaram aterrorizadas. Senti que Ridley Scott e Hampton Fancher tinham uma visão forte sobre o futuro da humanidade. Surpreendeu toda a gente.
Penso que o sonho era tão poderoso, sedutor e assustador em simultâneo que qualquer um tinha de escolher um dos lados. Sonhas com este mundo? Queres fazer parte dele? Ou tens medo dele e tentas evitá-lo?
As pessoas tinham de escolher entre dois lados?
Penso que todos sentimos, quando vimos o filme, que os criadores tinham imaginado algo que fosse possível existir no futuro. Era fascinante do ponto de vista do design, mas assustador ao mesmo tempo. E que teremos de ter cuidado com o que desejamos.
E era a primeira vez que assistia a uma visão do que poderia ser o futuro. O filme foi, do ponto de vista estético, uma extensão do que se passava nos anos 1980. E foi a primeira vez que alguém me mostrava o futuro, e era fascinante e algo assustador, ao mesmo tempo.
Ridley Scott é um especialista da hibridização. Ele combinou com sucesso ficção científica com terror em «Alien» … Com Blade Runner ele estava a unir o sci-fi ao film noir.
O filme teve uma enorme influência em termos visuais e sentido estético e nas ideias que desenvolve. Concorda?
DENNIS VILLENEUVE: Sim, do ponto de vista visual, é um filme que criou raízes, e foi muito influenciado pelo movimento punk que foi uma corrente estética radical no final dos anos 1960 e durante os anos 1970. E vemos esse ponto de vista radical no filme. Diria que é como um filme que revisita a mitologia de Frankenstein sobre um homem que quer fazer de Deus. e para mim, a ideia central do filme é o quão zangados estamos com Deus, com o criador. Quão zangados estamos com o fato de termos de lidar com a condição humana. E a raiva é algo muito vivo dentro de nós.
Ridely Scott coloca o dedo na ferida. Acho que é por isso que o filme é tão visceral, tão poderoso. Não é um filme muito intelectual, é muito mais visceral.
A história do seu primeiro contato com «Blade Runner» é muito boa. Qual o impacto que teve em si?
DENNIS VILLENEUVE: Lembro-me de ver as primeiras imagens na banda-desenhada de Deckard a voar por cima de Los Angeles. E era algo que nunca tinha visto antes. Era diferente. Lembro-me de ver o primeiro filme e ficar deslumbrado com uma das sequências de abertura mais poderosas de qualquer filme na história do cinema.
Los Angeles, Novembro 2019. Depois vemos aquele campo, paisagem de refinarias. Terrível e poderoso ao mesmo tempo. Um sonho impressionante. Esteticamente é um filme que me influenciou. Não sabia que viria a ser realizador, mas sei da influência profunda que o filme teve no meu trabalho.
Porque é que queria realizar a sequela? Como é que tudo começou?
DENNIS VILLENEUVE: Nunca arriscaria, honestamente, sugerir o meu nome para essa tarefa. Lembro-me bem do momento em que me estava reunido com Andrew Kosove e Broderick Johnson por causa de «Raptadas» [2012]. Pararam a reunião e disseram, “temos de parar porque o Ridley Scott vai chegar. Está na outra sala, neste momento e temos de reunir com ele pois estamos a planear a sequela de «Blade Runner».”
Nesse momento, pensei que era a ideia mais insana e bela ao mesmo tempo. Pois era um desafio tão grande. É tão difícil continuar a história, tentar reproduzir aquilo que tinha sido decisivo na história do cinema. Não é coisa pouca.
Lembro-me de dizer:” Boa sorte!”. Mas sabendo que o Ridley estava lá, sabendo que estava por trás do projeto, disse a mim mesmo: ”Wow, mal posso esperar para ver.” Lembro-me de estar no escritório deles e espreitar para as caixas para ver o look que o Ridley estava a criar. visões tão poderosas e imagens.
Assim, para responder à tua pergunta, surgiu do nada. Um dia o Andrew disse-me: “Preciso de falar contigo.” Estava no Novo México. Encontrámo-nos num café. Disse-me: ”Está aqui o argumento para o próximo «Blade Runner». Fiquei emocionado. (risos).Ter a possibilidade de ler o argumento, estava tão entusiasmado por ele me ter confiado o argumento e pedido a opinião sobre ele. Para mim era o maior elogio que alguma vez recebera, pela confiança que Alcon tivera em deixar o argumento nas minhas mãos.
Assim que li o argumento, a primeira coisa em que pensei foi: “Será que sou capaz de fazer isto? Sonhei muito antes de aceitar. Demorou muito tempo. Uma das condições era a bênção de Ridley Scott. Ou seja, precisava de me sentar em frente dele, olhá-lo nos olhos e perguntar-lhe: “Concordas que embarque neste sonho contigo”. Era a minha única condição, Precisava da bênção de Rildey.
Como foi esse encontro?
DENNIS VILLENEUVE: Ridley Scott é um dos meus heróis, é um dos melhores realizadores da história do cinema. Por isso encontrar-me com ele foi intimidante, no início.
Contou-me a origem de «Blade Runner», como surgiram as ideias para o filme. Donde surgiram, Quais eram os objetivos. Disse-me exatamente aquilo que precisava de ouvir, que teria liberdade total. Mas caso precisasse dele, podia ligar a qualquer hora sobre questões de design, estilo, atores e questões artísticas – estava aberto a qualquer questão.
E de facto ele esteve presente em todos os momentos em que precisei dele. No final, disse-me, olhos nos olhos, a apertar-me a mão, “Escuta, é muito simples, se fizeres bem o teu trabalho, pode ser fantástico. Se lixares tudo, vai ser um desastre. ”Isso foi a última coisa que me disse (risos) e disse-lhe que sim, que era honesto. (risos) Era aquilo que tinha para me dizer.
E como foi a colaboração com Ridley e Hampton Fancher na história. O que era importante preservar do filme original? O que foi discutido?
DENNIS VILLENEUVE: O mais importante para Ridley não era aquilo que é mostrado no filme, mas sim o que não é revelado. Algo fora daquele mundo. A mitologia na base da criação e design dos replicantes, etc. Quando pensas sobre isso, «Blade Runner» é uma história íntima com um âmbito enorme.
Tens aquele mundo fantástico à tua volta, mas sempre com o ponto de vista humano, ao nível humano e sempre na esteira de Rick Deckard. Era um dos pontos fortes do filme e o génio de Ridley em abordar o filme desta forma. Isso quer dizer que encontraram formas de fazer-nos sentir a dimensão deste mundo sem o mostrar.
Penso que ainda é um dos pontos fortes do filme. Acho que o Ridley queria que mantivéssemos a mitologia viva evitando mostrá-la. Precisei de ter muito cuidado na posição da câmara. O primeiro problema com que tive de enfrentar foi: O filme passa-se em 2049, e o que é que acontece no mundo de «Blade Runner»? Pois, como sabemos, o primeiro filme passava-se em 2019.
Todos sabíamos que era profético, que estavam presentes muitas coisas no primeiro filme que existem hoje. Mas, ao mesmo tempo, é um mundo diferente. Não existia nenhum Steve Jobs no «Blade Runner» de 2019. Isso implicava ter de construir um universo alternativo. 2049 é uma extensão do «Blade Runner» original. Não uma extensão da realidade como o primeiro era. O primeiro era inspirado no final da década de1970. Inspirei-me no «Blade Runner».
Esta foi uma escolha que fez todo o sentido para mim, e também para Hampton Fancher. Ele disse, ”Ouve, pára de pôr pressão nos teus ombros. O primeiro filme era um sonho. Sonhávamos muito, e tens de fazer o mesmo. Não tentes pensar sobre a lógica de tudo aquilo, sonha com aquilo.”Este foi o melhor conselho que recebi para me orientar na realização deste filme. Devo dizer também que fiquei sensibilizado pois, de vez em quando, recebia poemas de Hampton que guardei como fonte de inspiração.
Quais eram as maiores expetativas e receios quando entraste nesta missão?
DENNIS VILLENEUVE: Este filme é totalmente diferente de qualquer outro projeto anterior que tive. Estava habituado a criar universos fora de mim mesmo. Fiz a adaptação duma peça. Mas, ainda assim, tinha de criar imagens. Agora, este mundo já tinha sido desenhado por outrem, estava a pegar no sonho de outra pessoa .E essa foi uma experiência totalmente diferente.
É uma grande responsabilidade. Nunca senti tamanha responsabilidade a pesar nos meus ombros. E exigiu muita ponderação para encontrar a liberdade, deixar-me levar e fazê-lo. E divertir-me. De início foi uma odisseia. Estou grato ao Ridley por me dar aquela liberdade criativa, o espaço para criar.
O filme conserva a mesma palete de cores do primeiro mas é pintado por outra pessoa. Não sei como os espetadores irão reagir a essa mudança.
Para si, «Blade Runner 2049» trata de quê?
DENNIS VILLENEUVE: É uma história sobre o perigoso poder dos desejos sobre a razão. É também uma exploração sobre o que define o ser humano. Mais especificamente sobre as memórias. Será que somos seres humanos caso não tenhamos memórias?
Porque é que Ryan Gosling foi a melhor escolha para a fazer K? Como foi trabalhar com ele?
DENNIS VILLENEUVE: Uma das coisas que me foi sugerida quando li o argumento foi a possibilidade de Ryan Gosling ser K no filme. Acho que a ideia foi de Ridley. Assim que li o argumento, concordei logo com essa hipótese. Tinha de ser ele. Ele consegue exprimir tudo apenas com um pestanejar, sabias?
Precisava dum ator com inteligência e aquela sensibilidade para evoluir na narrativa, fazer da personagem alguém que ousa enfrentar as maiores adversidades da sua condição e não uma vítima.
Quando soube que Harrison Ford iria participar no filme?
DENNIS VILLENEUVE: Desde o início, quando li o argumento. O Harrison já fazia parte do projeto quando me convidaram. E ele foi uma razões que me fizeram aceitar realizar o filme. O Ridley não estava disponível pois estava ocupado com outro projeto e precisavam dum realizador. E foi aí que entrei.
O Harrison fazia parte do projeto desde a primeira hora. Não seria possível fazer «Blade Runner» sem o Harrison Ford.
Como foi trabalhar com ele e trazer de volta aquela personagem icónica?
DENNIS VILLENEUVE: Para mim, foi uma aventura muito especial trabalhar com o Harrison pois ele está ligado ao início do meu amor pela sétima arte. Cresci com os filmes da saga Star Wars, «Blade Runner» e todos esses filmes .Nos últimos 40 anos Harrison foi uma das maiores estrelas, alguém que fez parte dos nossos sonhos quando éramos mais novos. Conhecê-lo e estar com ele foi um enorme privilégio mas também a possibilidade de conhecer um dos meus heróis de infância.
Ele quebrou o gelo, logo de início, com uma atitude calorosa e encantadora, próprio dum artista generoso e humilde. Trabalhar com ele foi como regressar à escola de cinema. É alguém que tem muita experiência e dá tanto no processo de composição da personagem, como vi poucas vezes. Para mim, trabalhar com Harrison Ford foi uma experiência maravilhosa e única.
Fale-nos do talento de Ryan Gosling?
DENNIS VILLENEUVE: Não teria sido possível fazer «Blade runner 2049» sem Ryan Gosling. Ele foi um parceiro realmente criativo e a minha inspiração. Tornámo-nos amigos ao longo da rodagem, pois ele trouxe-me imensa energia.
Como realizador, procuro sempre encontrar alguém que sirva de inspiração. Não é fácil encontrar e quando isso acontece, é muito intenso. Esse é o sonho, descobrir uma atriz ou um ator que se torne a cor principal, a alma que procuras captar com a câmara. E Ryan tornou-se essa inspiração muito rapidamente.
A sua paixão, o seu esforço infinito em cumprirmos os nossos objetivos, emocionou-me, pois senti que era importante que tentássemos fazer um grande filme em conjunto.
As hipóteses de isto não correr bem eram enormes. E ambos, no início, concordámos na loucura do que estávamos a fazer, era entusiasmante, e isso foi um privilégio. Mas que o faríamos como um puro gesto artístico. Pois como não tínhamos ideia nenhuma como é que o mundo iria reagir ao novo filme, acordámos em que fizesse sentido para nós próprios e cuja visão fosse comum. Uma abordagem muito intimista ao projeto.
Fale-nos das personagens femininas e das atrizes que fizeram de Luv e Joi?
DENNIS VILLENEUVE: Estou grato aos produtores por permitirem encontrar o elenco que tive para fazer o filme. Corremos o planeta à procura do melhor elenco possível para as personagens. Descobri na Europa, nos EUA e em Cuba, atrizes que são das melhores com as que já trabalhei, e que são os novos valores de quem se ouvirá falar no futuro.
É raro como realizador assistir ao surgimento duma nova estrela. São mulheres poderosas. estou a pensar em Ana de Armas, a Joi do filme. Ela é uma atriz cubana que reúne todas as qualidades, a energia, a sensibilidade e o talento para compor esta difícil personagem.
A Sylvia Hoeks é Luv. Honestamente, uma das melhores atrizes com quem já trabalhei e estou ansioso por ver o que fará no futuro, pois julgo que ela vai deslumbrar. É uma atriz com imensa força, profunda e não tem medo de arriscar.
E sobre a inclusão de Jared Leto no elenco?
DENNIS VILLENEUVE: Quando li o argumento, Francine Maisler, o diretor de casting, e eu tivemos uma epifania. Wallace devia ser protagonizado por David Bowie. E pensámos que seria isso mesmo, era ele. seria complicado chegar a ele, mas vamos tentar. David Bowie é um ícon que podia inspirar «Blade Runner».
Fazia todo o sentido para nós tentar trazê-lo para este universo. Mas apesar da dor que a sua morte provocou, senti que tínhamos encontrado uma fonte inspiradora, um ideal. Tinha de encontrar alguém que tivesse as mesmas qualidades que o David Bowie tinha.
Não foi tarefa fácil. Esse magnetismo impressivo, a loucura no olhar, o desejo de transformação noutra personagem, maior do que a vida. E depois jared Leto foi escolhido. Ouvi histórias que uma das primeiras coisas que ele fez quando recebeu o óscar foi dizer que queria participar neste filme. Ele estava muito interessado em fazer de Neander Wallace e é um papel muito exigente, pois tem de lidar com uma quantidade enorme de falas. E precisava dum ator com aquele tipo de força para pegar naqueles discursos e dar-lhes vida duma forma poética.
E o que posso dizer? Escolhi uma estrela rock e ele arrebatou-nos. Foi impressionante o seu trabalho.
Como é que o novo filme se relaciona com o original em termos de estilo visual? O primeiro tinha um look icónico. Era importante ligar os dois filmes, visualmente?
DENNIS VILLENEUVE: Esse era um dos maiores desafios, ligar os dois filmes em termos visuais, e ao mesmo tempo, criar algo novo, com uma identidade própria. Todos sentimos a mesma pressão e responsabilidade para honrar o primeiro filme, o legado de Ridley, mas ao mesmo tempo fazer nascer o nosso próprio filme deste universo.
Assim, as boas notícias é que o argumento permitia-me sair de Los Angeles. E isso deu-me a oportunidade de pensar como é que o Mundo seria nas redondezas da cidade. As áreas à volta da Califórnia, sonhar com este lugar e assegurar que fizesse sentido do ponto de vista estético. Mas, ao mesmo tempo, traria um visual diferente ao filme.
Houve um elemento, para mim, realmente inspirador, que era o fato do clima ter mudado completamente entre os dois filmes. O primeiro filme era inspirado mais nos dias cinzentos de Londres, donde vinha o Ridley. Eu, venho de Montreal. Por isso, o filme é mais inspirado pelos dias escuros de Montreal, onde neva muito e faz muito frio. E isso trouxe diferenças do ponto de vista visual na atmosfera e na palete de cores do filme.
Leva-nos a Las Vegas. O que pode dizer sobre isso?
DENNIS VILLENEUVE: Um dos grandes desafios do filme era recriar uma outra cidade. Como seria Las Vegas em 2049? E apenas uma pessoa podia responder a isso. Fui ter com o criador original de «Blade Runner», o sonhador, o arquiteto do filme original. Fui ter com Syd Mead.
Senti que ele seria a única pessoa a trazer Las Vegas ao universo Blade Runner. Encontrei-me com ele, expliquei-lhe o meu desafio e ele acedeu em ajudar. Trouxe aquelas vistas lindas de Las Vegas e estou muito orgulhoso. Seja qual for a opinião das pessoas em relação ao filme, sei que a Las Vegas que criámos, é uma Las Vegas de Blade runner. Estou muito contente com isso. (risos)
Vamos falar dos cenários. De quem foi a ideia de ter estes cenários?
DENNIS VILLENEUVE: Foi uma decisão tomada numa fase precoce do processo: que usaríamos o chroma key o menos possível. Que utilizaríamos tantos cenários físicos quanto fosse possível e veículos verdadeiros também. Basicamente, pela minha sanidade. Detesto o Chroma Key. Não estou à vontade com aquela cor. Nem estou à vontade a trabalhar num mundo virtual.
Preciso de coisas tangíveis. De objetos reais, de adereços verdadeiros, de atmosferas reais, pois esses ambientes produzem ideias, que inspiram planos de câmera, inspiram cinema. Enfim, os meus filmes são inspirados por atores e estes precisam de ser abastecidos por um mundo real. Os meus filmes são, em primeiro lugar, sonhados por atores . E preciso de lhes dar tudo o que eles precisam para se inspirarem. Por isso, a primeira coisa que decidi com o Roger Deakins, o diretor de fotografia, foi construir tudo.
O Chroma key foi utilizado de forma limitada no filme. Claro que os efeitos visuais estarão presentes como extensão, pois estamos a criar um mundo inteiro. Mas, tudo o que vemos no filme, é, originalmente, no centro da imagem, real. Essa é uma grande vitória e estou grato que tenhamos feito essa opção.
Como foi o trabalho com Roger Deakins, no plateau e antes de começar a filmar?
DENNIS VILLENEUVE: O Roger começou a colaborar connosco desde o início, pois estava a trabalhar noutro projeto e senti que precisava de muita preparação. Queria ter tempo para sonhar com o filme, desenhar o filme com uma equipa muito pequena antes de começar a preparação oficial. Passei semanas num pequeno hotel com Roger Deakins e o meu artista de storyboard Sam, para desenhar o filme e criar o mundo onde trabalharíamos.
Assim, o Roger foi um dos pais da imagem cinematográfica de «Blade Runner 2049» desde o início. Senti , de forma marcante, que o filme era tanto do Roger como meu. E ele preocupa-se tanto com o filme como eu.
Disse-lhe, desde o início, “Por uma vez, podes ir pela via impressionista, deixares-te levar. És livre. Podes fazer o que quiseres.”
Assim, penso que o público será arrebatado por aquilo que o Roger Deakins fez em «Blade Runner 2049» pois acho que é um dos seus melhores trabalhos. E estamos a falar dum dos melhores diretores de fotografia de sempre. Por isso, honestamente, os espetadores não ficarão desiludidos. Visualmente, é muito forte.
Como imagina o mundo em 2049?
DENNIS VILLENEUVE: Um dos grandes problemas da atualidade é a dificuldade de imaginar o futuro. Todos os filmes de ficção científica são distópicos. Não há mais utopia, ou um sonho bonito . É algo que pergunto a mim próprio. Devo pensar sobre isso, tentar encontrar uma forma para mim ou para outras pessoas de sonhar duma forma positiva em relação ao futuro. Pois, neste momento o futuro é assustador do ponto de vista político, e do ponto de vista ambiental.
Não tornámos as coisas mais bonitas, de 2019 a 2049. É como se o mundo tivesse ficado um pesadelo ainda maior. Mas há boas notícias: em 2049, ainda estamos vivos (risos) Assim, ainda estamos aqui. É a única coisa que posso dizer. Embora ache que precisamos de mais sonhadores positivos.