Black Panther: Wakanda Para Sempre

BLACK PANTHER: WAKANDA PARA SEMPRE

BLACK PANTHER: WAKANDA PARA SEMPRE

E finalmente aconteceu! O MCU entrou na curva descendente!

De tanto ser inclusivo e politicamente correcto, de tanto querer agradar às minorias e a toda uma geração que não tem tino e ainda menos memória, os filmes da Marvel acabaram por se esquecer da sua verdadeira razão de ser: proporcionar ao espectador uma aventura sólida, inteligente, e empolgante. A bem dizer este segundo capítulo da saga Pantera Negra não é mais do que uma espécie de longa elegia a Chadwick Boseman, protagonista do primeiro filme, que morreu poucos meses depois da estreia do primeiro filme.

«Black Panther» (2018) foi um recordista nas bilheteiras e de algum modo tornou-se uma referência na criação de um novo ícone negro, assim uma versão contemporânea do Black Power dos anos 1960. A verdade é que o Pantera Negra foi uma criação da mais influente dupla de criadores da história dos comics: Os judeus Jack Kirby e Stan Lee.

Mas adiante, neste segundo capítulo os criadores da saga decidiram preencher o vazio deixado por Boseman, com uma emaranhada narrativa onde o luto de uma nação se mistura com pressões geo-políticas, a sucessão do trono de Wakanda e o aparecimento de um novo poder. A falta de ideias originais dos argumentistas levaram-nos a criar um argumento onde há lugar para tudo e onde na ânsia de ser cada vez maior e mais prenhe de significado se sacrifica o mais antigo herói da Marvel, o imperador dos oceanos, Namor. Nesta encarnação, Namor é o rei de uma nação submarina que rivaliza com Wakanda em potencial bélico, pois ambos detêm reservas minerais de vibranium, que o resto do mundo muito ambiciona. No meio disto tudo Wakanda vive uma crise de sucessão onde se discute um futuro com ou sem Pantera Negra.

Apesar do indiscutível sucesso nas bilheteiras este «Black Panther: Wakanda para Sempre» é claramente um beco sem saída em termos narrativos, pois o intrincado das relações de poder de Wakanda com os predatórios interesses multi-nacionais e a rivalidade com o reino de Namor, transforma o filme em algo de ponderoso e muito pouco excitante não importa as explosões e o número de efeitos especiais.

Os maiores críticos dos filmes de super-heróis apontam a estes filmes o pecado de serem todos iguais. Exageram é claro, porém há algo de repetitivo nestas sagas onde as questões mais subtis e sensíveis acabam todas por serem resolvidas a murro e pontapé. Mas essa é a natureza e a raiz de todo o género que sempre equacionou as rivalidades entre o ‘bem’ e o ‘mal’ como uma enorme cena de pancadaria entre protagonistas vestidos de cores garridas. A natureza do comic-book – criado para agradar a um público essencialmente masculino e no limiar da adolescência, presta-se a elaborados espectáculos visuais, porém tal como estão neste momento, o resultado final enche o olho mas não consegue preencher um vazio cada vez mais abrangente. Talvez seja tempo de re-equacionar este género de narrativas, mas a solução não é decerto algo como este fúnebre «Black Panther: Wakanda para Sempre». Manuel C. Costa

Título original: Black Panther: Wakanda Forever Realização: Ryan Coogler Elenco: Letitia Wright, Lupita Nyong’o, Danai Gurira, Angela Bassett, Martin Freeman, Tenoch Huerta Duração: 161 min. EUA, 2022

[Texto originalmente publicado na Revista Metropolis nº88, Dezembro 2022]