BATALHA DO PACÍFICO

BATALHA DO PACÍFICO

Num primeiro relance Pacific Rim, o mais recente filme de Guillermo Del Toro, pode parecer nada mais do que um artifício de marketing, uma mistura de géneros menores engrandecidos pela mais sofisticada tecnologia digital. A um nível, o filme pode ser visto de facto como o cruzamento entre os Transformers e Godzilla, um festival de destruição e pugilato a uma escala colossal engalanado com a magia dos efeitos especiais de Hollywood. Mas na verdade é um pouco mais que isso, o que Del Toro faz com os seus combates de criaturas titânicas é tentar devolver à experiência de ver um filme em sala aquela dimensão de surpresa e assombro que o cinema em tempos teve e que hoje raramente vemos. Visto nas condições ideais, em IMAX 3D, o filme leva a sua premissa às últimas consequências e consegue envolver o espectador numa narrativa, que a bem dizer não é exactamente para todos os gostos, mas que recupera de forma completamente realizada a dimensão mais espectacular do cinema. Não será por acaso que Del Toro, que é um irredutível fã do cinema de género, dedica o seu filme a dois mestres incontornáveis do cinema-espectáculo: Ray Harryhausen, o génio da animação stop-motion, e Ishiro Honda, o mestre japonês que deu ao mundo o mais famoso lagarto gigante da história do cinema, Gojira, ou Godzilla. A intriga do filme é simples, do fundos dos oceanos, tal como «Godzilla» (1954) e o «Monstro dos Tempos Perdidos» (1953), surgem monstros de outra dimensão que começam a atacar e destruir cidades costeiras da orla do Pacífico. Os governos mundiais são obrigados a congregarem esforços e a desenvolverem uma arma capaz de fazer frente aos Kaiju (os invasores extra-dimensionais), é então que surge o programa Jaeger (caçador) uma série de robots gigantes, armados até aos dentes e tripulados por duplas de pilotos com o talento especial de fundirem as sua mentes para conduzirem os colossos de metal. Del Toro presta subtilmente homenagem a um dos seus ídolos, H. P. Lovecraft, fazendo os monstros inter-dimensionais algo semelhantes aos horrores dos Velhos Deuses. A caracterização das personagens humanas é mínima, apenas o bastante para desenvolver uma relação entre o espectador e as personagens, pois aquilo que aqui é realmente importante são os Jaegers e os Kaiju, os seus duelos devastadores e o cenário de caos e destruição que eles deixam atrás de si. Envolvente, tecnicamente imaculado, espectacular e muito divertido, «Batalha do Pacífico» não pretende ser mais do que realmente é, uma homenagem aos filmes de monstros do passado e um entretenimento de dimensão colossal capaz de nos devolver a dimensão de assombro de que o cinema é capaz.

Título original: Pacific Rim Realização: Guillermo del Toro Elenco: Idris Elba, Charlie Hunnam, Rinko Kikuchi, Ron Perlman. Duração: 100 min. EUA/México/Hong Kong, 2013

[Crítica publicada originalmente na revista Metropolis nº11, Agosto 2013]