Com um investimento de marketing a rondar os 150 milhões de dólares (mais 5 milhões que o custo de produção), foi praticamente impossível escapar ao hype de «Barbie» (2023), que esgotou várias sessões nos primeiros dias nos cinemas. Nas redes sociais, na rua e em lojas: todos os caminhos iam dar à Barbieland, e ninguém queria ficar fora desta viagem. Embora certos relatos pareçam largamente exagerados, a verdade é que, na sessão em que estive presente, o “código de vestuário” era claramente rosa e, no final, até houve (alguns) aplausos.
Entre marcas, spots e outras iniciativas, o filme realizado por Greta Gerwig (que escreveu o argumento a meias com o marido, Noah Baumbach) atingiu uma dimensão digna de registo, com o feedback inicial a ser muito positivo. Apesar de a Barbie ser uma boneca tradicionalmente para crianças, Greta desenvolveu uma história adulta, com temas atuais e fraturantes, como o feminismo e o corporativismo. Além de mais, o forte investimento na banda sonora, com artistas como Billie Eilish, Sam Smith ou Lizzo, entre muitos outros, é notável.
Em relação à trama, tudo começa quando a Barbie “estereotipada” (Margot Robbie) começa a problematizar questões determinantes como a morte, e teme estar a funcionar mal, partindo em busca de uma resolução rápida para os seus problemas. É então que uma Barbie marginalizada (Kate McKinnon) lhe diz como ir até ao mundo real, com o objetivo claro de encontrar a jovem que lhe está a despertar essas preocupações para, assim, tudo ficar bem como antes. Mas a verdade é que, mal coloque um pé fora da Barbieland, nada será como antes.
Com uma história cativante, que coleciona alguns bons momentos, «Barbie» (2023) desconstrói a imagem que temos sobre histórias de contos de fadas que são tradicionalmente infantis. O imaginário da narrativa vai além disso e, de forma inteligente, desenvolve um argumento que questiona o patriarcado, a mulher perfeita e uma série de temas que têm atravessado gerações. Sem vilões nem heróis declarados, apenas pessoas (ou bonecos) à procura do seu lugar no mundo.
Também Ken (o mais popular deles é interpretado por Ryan Gosling) que reclama o protagonismo que nunca teve, mostrando que é mais do que o “namorado” de Barbie. Com múltiplas Barbies, Kens e um Allan (Michael Cera), a Barbieland está pronta para sofrer a maior transformação de sempre – no filme e na perceção de quem assiste.
Sem ser o melhor filme dos últimos tempos, e longe de ser o pior, a longa-metragem cumpre aquilo a que se predispõe: quebrar ideias preconcebidas e levar a sociedade a questionar-se. Com aparato, fogo de vista e uma banda sonora contagiante, «Barbie» (2023) garante momentos divertidos, com outros mais pesados pelo meio, para desmistificar, ainda, a ideia de que este tipo de histórias já não nos pode surpreender.
Título Original: Barbie Realização: Greta Gerwig Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, Issa Rae, Kate McKinnon, Hari Nef, Simu Liu, Will Ferrell, Helen Mirren, America Ferrera, Michael Cera, John Cena Duração: 114 min. EUA, 2023
- FILME NOMEADO PARA 8 OSCARS