A METROPOLIS teve acesso antecipado aos quatro primeiros episódios de uma das estreias mais aguardadas da Netflix em 2020. «Away» chega esta sexta-feira, 4, e traz uma Hilary Swank ao seu melhor nível. No centro da narrativa, o esforço mundial para alcançar o Planeta Vermelho.
Há em «Away» uma sensação constante (e inquietante) de finitude. Ao mesmo tempo, sobressai uma camada oposta e igualmente cruel: tudo o que é negativo prolonga-se. No tempo e no Espaço. Mais do que uma série de ficção científica, um género onde a Netflix tem sido feliz, «Away» é um soberbo drama humano. Uma surpresa agradável naquela que é a primeira criação autoral de Andrew Hinderaker, que conta no currículo com passagens pelos argumentos de «Penny Dreadful» e «Pure Genius».
Hilary Swank é Emma Green, a astronauta norte-americana que comanda uma missão mundial que tem como destino Marte. A sua equipa é composta por especialistas de diferentes nacionalidades: Misha (Mark Ivanir), Ram (Ray Panthaki), Lu (Vivian Wu) e Kwesi (Ato Essandoh). Depois de vários anos a treinar em conjunto, o grupo parte para uma viagem de três anos – cujo regresso está longe de ser uma certeza.
Na próxima sexta-feira, 4, há 10 episódios para ver de seguida e descobrir se esta missão tem ou não final feliz. Por aqui já se viram quatro e o balanço é muito positivo.
Mais coração do que razão…
Vistos como heróis pela população em geral, os elementos deste quinteto espacial têm o “mito” desconstruído aos olhos da família e amigos. Num episódio piloto marcado por linhas temporais manipuladas para uma melhor contextualização da história, ecoa a efemeridade do presente e a dimensão assustadora da distância. Para lá da missão no Espaço, há a vida individual e o drama “banal” que é estar longe das pessoas de quem mais gostamos; e perder o controlo.
É certo que esta descrição denota uma forte componente emocional da narrativa, mas, em vez de a enfraquecer, torna-a mais forte. A viagem a Marte ganha profundidade: à ciência junta-se a fragilidade humana e o peso das escolhas. As que são aceites pela família, como é o caso de Emma, e as que destroem laços, na situação de Misha. E, mesmo no primeiro caso, depressa se percebe que até essa força apresentada como imbatível está presa por fios muito frágeis.
Matt (Josh Charles, The Good Wife), o marido de Emma, viu o sonho de ir a Marte desfeito por uma doença genética. Fica em Terra com a filha Lex (Talitha Eliana Bateman), uma adolescente que, de repente, se encontra no meio de um mundo grande demais para ser capaz de o perceber. Já à distância, a capacidade de Emma corresponder ao que esperam dela em casa e no Espaço vai passando por altos e baixos. Colocada em causa como líder, tem de se superar enquanto todo o mundo está a ver.
O facto de estarmos perante uma minissérie de 10 episódios permite uma complexidade que nos filmes do género chega muitas vezes apenas subentendida (não há tempo para tudo). A empatia é trabalhada com afinco e detalhe e, apesar das pistas do argumento, existe espaço para surpresas. Com a bagagem que o grupo leva consigo, há também o desenvolvimento com episódios dedicados a cada um, repescando o passado e idealizando o futuro.
Com Hilary Swank a ser a estrela mais brilhante desta galáxia de luxo, «Away» sai reforçada sobretudo dos seus diálogos e do impulso que Emma dá aos acontecimentos. Apesar da responsabilidade que transporta, o espectador vê muitas vezes apenas a mãe, a esposa e uma pessoa insegura – ainda que determinada quando necessário. Alguém humano, sem laivos de heroína ou gestos mágicos dignos de um salvador (embora tenha os seus momentos), onde a distância entre o sucesso e o fracasso é somente um passo. Uma história contagiante.