Em 2009 James Cameron regressou à sua melhor forma com um épico sci-fi de proporções bíblicas, seja qual for a consideração dos espectadores, o filme marcou um momento incontornável do cinema. No seu extremo poderá se considerar um western sci-fi, a narrativa está recheada de alegorias, apesar de se desenrolar num futuro distante, estão presentes temas quentes dos últimos anos, a retórica bélica, o imperialismo económico, a causa ambiental e até mesmo o fundamentalismo e nesse aspecto pedia-se uma maior contenção. O maior trunfo do filme é o espantoso trabalho visual da obra e a beleza está longe de estar consignada a “acção”, pelo contrário o melhor surge nas sequências dramáticas ou de contemplação de um planeta que teve como criador Cameron e companhia limitada criando de raiz um novo e deslumbrante mundo, a vegetação, a fauna e a flora numa abordagem. O enredo conta a ligação de um jovem marine, limitado na sua cadeira de rodas e que ganha vida ao controlar o seu avatar semelhante aos aliens residentes de um planeta distante e sob essa forma ele sente-se realizado. No seio da narrativa está uma história de amor clássica, o explorador dividido que se alheia dos seus deveres para ser “traído” pelos seus sentimentos, apaixona-se pela indígena e é conquistado pela natureza e pelas causas de um povo que está conectado ao universo em seu redor, torna-se o maior defensor desse equilíbrio face às ameaças dos seus irmãos de armas. O clímax é pensado na óptica do espectáculo visual, a grande maioria dos personagens são digitais mas foram pessoas de carne e osso que deram voz e estrutura a estas criações, Sigourney Weaver reencontra-se com o realizador após 25 anos permanecendo um polo de vitalidade no ecrã. Cameron voltou a provar que é senhor dos seus sonhos continuando a proporcionar às audiências viagens inesquecíveis, como no passado, voltou a delinear novas fronteiras digitais e que não invalidaram a contínua pluralidade da 7ªArte.
Título original: Avatar Realização: James Cameron Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Michelle Rodriguez, Giovanni Ribisi. Duração: 162 min. EUA, 2009
[Crítica publicada originalmente na revista Premiere, Abril 2010]