Astérix e o rotundo e glutão Obélix são ícones não só da banda-desenhada europeia mas essencialmente da cultura popular francófona, onde ocupam um lugar cimeiro apenas ultrapassado por um certo repórter aventureiro. O valente e destemido gaulês e o seu avantajado amigo coleccionador de menhires estrearam-se na mítica revista Pilote, no já longínquo ano de 1959. Desde então foram lançadas 34 aventuras, porém as mais inovadoras, arrojadas e hilariantes foram todas escritas até 1977, data da morte prematura de René Goscinny, uma figura incontornável na história da BD europeia. Astérix e Obélix foram já alvo de várias transposições para o cinema, quer por via de filmes animados, quer através de adaptações em imagem real, das quais a mais conseguida é sem dúvida «Astérix & Obélix: Mission Cléopâtre», produzido em 2002. O filme seguinte, «Astérix nos Jogos Olímpicos», estreado em 2008, apesar de toda a promoção e do grande orçamento, acabou por ser um grande desapontamento, especialmente se tivermos em conta o potencial da genial aventura elaborada por Goscinny.

Surge-nos agora «Astérix & Obélix: Ao Serviço de Sua Majestade», uma adaptação inspirada no álbum Astérix e os Bretões. O realizador Laurent Tirard não é alheio ao humor e universo de Goscinny, pois é sua a versão filmada de «Le Petit Nicolas» (2009), as crónicas de um rapazito na França do pós-guerra. O filme tira o máximo partido da familiaridade dos espectadores com o mundo dos gauleses irredutíveis que por volta do ano 50 A.C. faziam a vida negra a Júlio César e ás suas legiões. Assim Tirard inclui quase todos os gags tradicionais da série: os pobres piratas, a gulodice de Obélix por javalis e por dar tabefes a romanos, a incompetência das legiões de César, etc.

A intriga leva-nos até á primeira tentativa de Roma em conquistar a Grã-Bretanha, a rainha dos Bretões manda um seu emissário, o fleumático Jolitorax, até à Gália para pedir ajuda aos irredutíveis gauleses na sua luta contra os avanços de César. O filme usa muitos dos gags da história original com efeitos que vão do hilariante ao morno, mas apesar desta aventura ser muito rica em personagens e ideias, Tirard não a achou suficiente e assim pediu emprestados elementos de uma outra aventura, Astérix e os Normandos, para dar uma maior variedade de personagens e situações ao filme. O resultado está longe de ser um êxito, pois se os gags com Catherine Deneuve como monarca francesa e especialmente a personagem de Jolitorax são bastante conseguidos, por outro lado todo o segmento com os Normandos parece postiço e redundante. Curiosamente as personagens centrais parecem pouco convincentes, Edouard Baer bem tenta mas o seu Astérix não convence e surge-nos algo mortiço; quanto a Dépardieu como Obélix, o actor parece em piloto automático limitando-se a mimar a sua caricatura sem grande enlevo ou energia. Salva-se a produção visual que nos dá algo de novo e vibrante na sua recriação da Bretanha de há 2000 anos, e é claro os efeitos especiais que estão cada vez mais apurados e espectaculares, provando que as companhias europeias não ficam a dever nada ás congéneres americanas. Melhor que o filme anterior mas uns níveis abaixo de Missão Cleópatra, esta série parece ter chegado a um impasse criativo, mas mesmo assim ainda nos provoca uma mão-cheia de gargalhadas, o que já não é nada mau.

Título original: Astérix et Obélix: Au Service de Sa Majesté Realização: Laurent Tirard Elenco: Edouard Baer, Gérard Depardieu, Gérard Jugnot, Catherine Deneuve, Jean Rochefort. Duração: 110 min França/Espanha/Itália/Hungria, 2012

[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº3, Novembro 2012]

https://www.youtube.com/watch?v=eLr8aU-sTb8
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