Uma viagem filosófica pela divisão de classes e o pior da humanidade, «Arranha-Céus» é um intrigante e surpreendente filme. A obra baseia-se no romance escrito por J.G. Ballard e é uma história distópica passada na década de 1970. O cenário – que se torna, por si só, num personagem – é uma torre gigante de condomínio, onde há apartamentos, um mercado, piscina, ginásio, etc. Tudo para que os seus habitantes se possam isolar do mundo exterior, o que efetivamente acontece, mas será pelas melhores razões?
Ben Wheatley mostra habilidade enquanto realizador, garantindo uma obra coesa e com alguns momentos especialmente bem-conseguidos, mostrando os limites que a narrativa provoca, tentando explorar o potencial de um texto imaginativo e arrojado. O melhor da obra acaba por acontecer a partir do segundo ato, em que começamos a mergulhar na loucura e podridão humanas, fazendo lembrar, de quando em vez, algum do extremo também abordado de «Ensaio Sobre a Cegueira» (2008).
O elenco é, sem dúvida, a grande mais-valia da obra, começando pelo protagonista, Tom Hiddleston, numa interpretação arriscada e que não falha o tom. Luke Evans tem uma das performances mais interessantes da carreira mas há outros atores que também não falham, como Jeremy Irons, Sienna Miller ou Elisabeth Moss, que conseguem acompanhar a insanidade que a narrativa preconiza.
«Arranha-Céus» é um projeto que o produtor Jeremy Thomas tentava concretizar há 30 anos, inicialmente com Nic Roeg como realizador. O livro no qual o argumento se baseia chegou a ser considerado impossível de se filmar. A verdade é que fica a sensação de que ficou algo por explorar, quiçá um forte impacto visual substituiu algum intimismo que a história procurava. Não obstante, «Arranha-Céus» abre também a porta ao debate, já que os temas que aborda são tão ou mais atuais do que na década de 1970. E, só por isso, já é uma obra que vale a pena.
Título original: High-Rise Realização: Ben Wheatley. Elenco: Tom Hiddleston, Jeremy Irons, Sienna Miller. 119 min. Reino Unido/Bélgica, 2015