“Anna” é hoje tido como um exemplar obsoleto na questão da representação feminina pós-metoo ou do contexto geopolítico atual, mas esta enésima “brincadeira de espias e assassinas” leva-nos ao encontro de um dos mais desprezados autores do cinema de ação recente.

Antes de todo este frenesim e urgência no tratamento das mulheres no Cinema, sobretudo no género em questão, Luc Besson foi, numa altura que este universo era tido como algo verdadeiramente masculino, crucial em atribuir palco ao mais variado leque de action women. O resultado está à vista de todos, “Nikita” (1990) que discretamente consolidou as bases de um subgénero e abriu porta para recentes heroínas do cinema.

Em relação a “Anna”, toda esta Guerra Fria por vias de pastiche cobre os seus atributos enquanto produto de entretenimento passageiro e de uma… “aceitável”… sensualidade. A modelo e bailarina Sasha Luss corresponde à homónima personagem, dando o seu corpo ao manifesto deste conto de traições e seduções à moda antiga envolvido numa narrativa de constantes retrocessos e avanços a replicar as camadas dentro de camadas de uma boneca matriosca. Pelo meio, os atores reconhecidos do audiovisual ocidental, como Helen Mirren e Luke Evans a assumirem-se como verdadeiros estereótipos fomentados por anos e anos de senso comum à americana. “Anna” surge perante nós como um saudosista ensaio de ação à lá 90’ com as características que atualmente são vistas como nefastas, arcaicas e inutilizáveis.

Nesse jeito, vem ao encontro doutra recente obra estrangeira sobre os bastidores da Guerra Fria – “A Agente Vermelha” – que abordava o sexo como a derradeira arma apara o termino de conflitos mundiais. Uma espécie em vias de extinção.

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