[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº4 – Dezembro 2012]
Deslumbre, tragédia e sonho. Tudo isto está presente na mais recente obra de Ang Lee, profundamente inspirado na adaptação do best-seller de Yann Martel. Nesta história, ficamos a conhecer as aventuras de Piscine Molitor Patel (mais conhecido por Pi), um jovem indiano inteligente e inquieto, que procura sempre encontrar o melhor caminho para resolver os seus obstáculos, além de revelar uma forte complexidade interior que exalta em curiosidade quando se trata das suas opções religiosas. A família tem como fonte de rendimento um jardim zoológico, mas pretende mudar de vida e viaja assim num cruzeiro para o Canadá. Todavia, acontece um naufrágio e Pi acaba por ficar sozinho em alto-mar num pequeno barco, com alguns mantimentos e… um tigre de Bengala adulto. O que acontece a seguir é uma imensidão de sonhos, segredos e esperança, uma inexorável esperança. Quando tudo o resto falha, Pi mostra uma resiliência permanente e tenta encontrar naquele perigoso tigre um verdadeiro amigo. Se consegue ou não, deixemos para que o próprio Pi o conte.
Ang Lee consegue transpor esta dimensão dramática numa narrativa dinâmica e fluida, tirando partindo do 3D, que neste caso enriquece a obra, tornando-a mais viva e próxima do espectador. Além disso, os efeitos especiais servem para moldar estas aventuras de Pi de forma incrível e surpreendente, como aliás o próprio tigre, que na verdade não é real. Contudo, esta pode também ser uma das pequenas falhas desta obra, já que, por vezes, o filme adquire um aspecto demasiado plástico, algo artificial e faz com que nos desconcentremos do próprio encadeamento narrativo para atentar à força visual da fita.
Não obstante, «A Vida de Pi» acaba por ser uma feliz combinação de vários elementos: uma belíssima e cuidada fotografia, a interpretação brilhante dos actores que representam Pi (nas suas diferentes fases) e uma história fortíssima, que arrasta o espectador até ao final, de uma forma emocionante e envolvente. Mais do que uma mera história de um sobrevivente, «A Vida de Pi» é também o retrato de uma cultura única e rica como a indiana, com particularidades a diferentes níveis: religioso, cultural e social. Trata-se de um filme meticuloso e visualmente estonteante, acabando por ser mesmo este o grande trunfo da obra, não obstante o cariz vibrante e riquíssimo da história, que é pouco linear, deixando para o próprio espectador a interpretação da história. Mais do que um simples filme, é uma experiência inesquecível.
Título Original: Life of Pi Realização: Ang Lee Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain. 127 min. 2012 EUA/China
*«A Vida de Pi» em exibição na HBO Portugal.