Há vários anos que o canal AXN continua a trazer-nos as melhores séries dos quatro cantos do mundo. «A Unidade» é uma frenética produção espanhola que combina o drama humano com um intenso thriller, um projecto inspirado na batalha contra o terrorismo islâmico. O passado recente provou que não é apenas no cinema que nuestros hermanos produzem sucessos globais. Embora eu não seja apreciador (ao contrário da grande maioria) de «La Casa de Papel», é um facto que a série colocou Espanha no mapa internacional das produções para televisão. Não é, pois, de estranhar que comecemos a ver propostas de Espanha que rivalizam com o melhor do que se faz nos Estados Unidos da América, Inglaterra ou a Escandinávia.

Estreada em 2020, «A Unidade» foi criada por Alberto Marini e Dani de la Torre, este último realiza com estilo e dimensão humana todos os episódios da primeira temporada. A série tem um elenco que funciona de facto como uma unidade orgânica, as interpretações são consistentes e pontuadas por três excepcionais protagonistas: Nathalie Poza, Michel Noher e Marian Álvarez. A série, à semelhança do que acontece na realidade, também tem uma mulher como líder da unidade de antiterrorismo, interpretação corajosa e impactante de Nathalie Poza. O restante elenco de actores secundários possuem imensa experiência de interpretação deixando em prismas diferentes apontamentos muito interessantes.

«A Unidade» podia facilmente descambar para o populismo e o maniqueísmo dada a sua temática central mas os autores tiveram o engenho para suster as diferentes dinâmicas da narrativa. Nesta série estão espelhados nos personagens e no enredo a dimensão afetiva, as ambições pessoais, a trama policial e os contornos e impacto em figuras que possuem um carácter tridimensional ao longo de uma jornada incansável para impedir o despoletar uma enorme tragédia.

«A Unidade» não se alheou dos temas delicados que surgem como efeito secundário e consequência das ameaças à paz e à segurança dos cidadãos com o aparecimento do radicalismo islâmico. Os criadores da série apresentaram o outro lado, a visão das pessoas que partilham uma fé diferente mas combatem lado a lado para defender a pátria de acolhimento do extremismo. É evidente que «A Unidade» aliada ao drama e à adrenalina tem momentos sensíveis, relembramos que Espanha é infelizmente um país assolado pelo estigma do terrorismo, primeiro o separatista, com a ETA, e depois com o Estado Islâmico. Há uma sequência em particular que traz à memória a tragédia da Rambla de Barcelona, a 17 de Agosto de 2017. A este propósito, chamamos a atenção para a forma bastante digna como Dani de la Torre filmou aquela que é uma das cenas mais fortes da série. A cena em específico é um plano-sequência que toma a perspetiva do rosto do autor durante um acto terrorista. Este momento intenso dura 90 segundos e combinou a visão de Dani de la Torre com a empresa espanhola de efeitos visuais El Ranchito, vencedora de um Emmy por «A Guerra dos Tronos». A cena em concreto demorou cerca de 3 meses a ser preparada e finalizada em pós-produção.

Nathalie Poza

Em «A Unidade» também não ficamos indiferentes à multiplicidade dos palcos de ação na representação de uma luta e de um problema que não está geograficamente circunscrito. A trama apresenta o perigo e o alastramento da ameaça no espaço colocando um oceano de pessoas no encalço de diferentes pistas nos mais variados locais de Espanha e do mundo numa investigação para estancar o perigo. «A Unidade» teve o mérito de andar no fio da navalha, equilibrando o ficcional com o real, sem nunca perder o impulso narrativo. Não são muitas as séries ou filmes internacionais a lidar com este tema específico que conseguem espelhar uma visão tão abrangente e realista das partes envolvidas. A série foi filmada na sua esmagadora maioria na Galiza mas depois houve uma série de filmagens exteriores em França, Marrocos e na Nigéria. Por exemplo, a sequência do conflito na Síria foi filmada numa fábrica de cerâmica da Galiza e podemos assegurar a verosimilhança desta cena. Houve muito mérito para o trabalho da direcção de arte de Julio Torrecilla e da empresa de efeitos especiais El Ranchito, cerca de 400 planos da série tiveram retorques visuais, estiveram envolvidos cerca de 5000 figurantes neste projecto.

Um dos maiores trunfos de «A Unidade» foi a colaboração na produção da série com os elementos da unidade de antiterrorismo espanhola, considerada uma das melhores do mundo. Esta relação verificou-se ao nível de pesquisa e escrita do argumento e da proximidade dos actores para tentarem reproduzir os dois lados da moeda, o lado privado e o profissional, num contexto tão sensível. O facto de a série ter procurado o realismo produziu um retrato mais fiável e interessante para os espectadores.

«A Unidade» foi um sucesso crítico e comercial nos diferentes países por onde já passou. Portugal não será excepção, uma série a não perder no AXN.


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