A METROPOLIS teve o prazer de entrevistar Marian Álvarez [foto] da série «A Unidade», mais um sucesso garantido do canal AXN. A actriz espanhola é uma das protagonistas de um projecto que vai surpreender os espectadores pela sua qualidade e adrenalina. A série impressiona pela seriedade com que abordou um tema delicado (o terrorismo islâmico) prestando um digno tributo aos homens e mulheres que arriscam a sua vida para manter o mundo a salvo com todas as consequências pessoais que advêm dessa incrível dedicação. Leiam a entrevista com a talentosa e simpática Marian Álvarez (actriz vencedora do Goya em 2013) e não percam «A Unidade» no AXN.
Qual foi o momento em que desejou ser atriz?
Marian Álvarez: Não sei dizer exatamente o momento em que isso aconteceu, estava num curso de gestão bastante aborrecido e não sabia se seria isso que queria fazer para o resto da minha vida. Comecei a frequentar umas aulas de interpretação e dei-me conta que era isso, essa seria a minha vida. Escutei-me a mim mesma e a minha vida trouxe-me até aqui e não me dei assim tão mal. Vinte anos depois, aqui estamos [risos]. A carreira de actriz não era uma coisa vocacional e que pensasse fazer desde criança, como acontece com tantas outras pessoas. Gostava de fazer teatro nos colégios que frequentei, sim, mas foi uma questão mesmo de pensar em não fazer algo que não queria, e assim procurei e encontrei a profissão de actriz.
Como é que chegou até esta série? Ao ler o argumento apercebeu-se da escala do projecto?
Marian Álvarez: Na realidade foi através de um casting, havia uma proposta de uma série para a Movistar [canal de televisão espanhol] dirigida por Dani de la Torre. Queria que o casting resultasse bem, é muito raro eu interpretar o papel de agente de polícia, mas havia algo que me atraiu para o projecto. Depois, quando li os guiões, não tive nenhuma dúvida, percebi que era um projeto excitante e fascinante, uma oportunidade de dar vida e mostrar ao mundo o trabalho destas pessoas que são invisíveis na sociedade, mas sabemos que elas existem e não tive nenhuma dúvida em aceitar o desafio, na verdade, estou muito contente por tê-lo feito [risos].

A sua personagem é complexa, como foi a preparação para esta viagem?
Marian Álvarez: Nós conseguimos ver em primeira mão como trabalha essa unidade [de anti-terrorismo], o que foi importante na série para incutir realismo nestes personagens e não americanizá-los. Estas pessoas são tão normais como o teu vizinho do lado, era super importante que fosse assim. No caso da minha personagem, a Mirian, é uma mulher de acção, é prática, pragmática, ela olha sempre para a frente e vive intensamente todos os problemas. Num mundo de homens, a Mirian tem de sobressair entre os demais. Gostei muito da dualidade da Mirian, de alguém bastante preparada, por exemplo, o domínio em vários idiomas, e ao mesmo tempo é alguém muito real no seu vocabulário, apreciei isso na personagem. E o Dani [de La Torre, co-criador da série] deu-nos imensa liberdade e permitiu-nos improvisar com os personagens, foi precioso.
Como foi a rodagem na Nigéria?
Marian Álvarez: Uma viagem incrível à Nigéria, sobretudo esse lugar, Makoko, que é algo de outro planeta. É um mundo aquático, a água é bastante negra e vive muita gente nesse lugar. Impressionou-me bastante mas foi também enriquecedor. Gosto imenso de África, é um sítio que nos transforma, chegamos de lá diferentes. Neste caso foi muito bonito, tive aquela sensação que estava lá porque era actriz, porque nunca seria possível fazer “turismo” naquele lugar. A princípio tens algum receio, és escoltado para todo o lado, é um país complicado e perigoso mas as pessoas daquele lugar foram maravilhosas, nunca tive a sensação de perigo em Makoko, foi das melhores coisas que pude desfrutar como actriz.
O elenco parece bastante coeso, sente-se a camaradagem no ecrã, como foi a relação entre os actores?
Marian Álvarez: «A Unidade» tinha de ser isso mesmo, uma unidade de companheiros que realmente se respeitam mutuamente. Se isso não acontecesse «A Unidade» nunca teria êxito, e realmente penso que conseguimos. Os actores são muito talentosos, bastante trabalhadores e muito boas pessoas, o que tornou tudo muito mais fácil. São pessoas maravilhosas. Gosto muito de trabalhar com eles, tenho expetativa para a segunda temporada para trabalhar e voltar a vê-los. Foi muito fácil rodar esta série, mesmo com toda a intensidade e muita acção, mas na realidade a sensação foi de absoluta felicidade, nesta rodagem tudo fluía muito bem.

Sentiram o peso de lidarem com um tema tão sensível como o terrorismo, especialmente, em Espanha?
Marian Álvarez: Temos infelizmente em Espanha enormes antecedentes com o problema do terrorismo. Primeiro com a ETA e depois fomos bastante abalados com os atentados do Estado Islâmico. Esta unidade da polícia espanhola é uma das melhores do mundo, por isso mesmo, advém de muitos anos de luta contra o terrorismo. Houve muitos agentes de todo mundo que vieram ter formação com a unidade de antiterrorismo espanhola após o aparecimento do terrorismo islâmico. Por um lado, há que reconhecer esse valor [da unidade de antiterrorismo] e por outro lado temos um passado conturbado a esse nível. Penso que é importante que existam esses agentes porque somos muito conscientes da ameaça real que temos sobre nós a nível global. O que se passa na série pode-se repetir em Inglaterra, em Espanha ou nos Estados Unidos. É importante dar visibilidade a estas pessoas [os agentes de antiterrorismo] porque são heróis anónimos que lutam para que estejamos bem e trabalham em absoluto sigilo. Também te digo que se vive melhor na ignorância, depois de ver esta série ficamos um pouco mais paranoicos [risos], não podemos pensar que está tudo bem, o que realmente acontece é que há pessoas que salvaguardam para que esteja tudo bem e possam cortar o mal pela raiz.
Dani de la Torre realiza todos os episódios da primeira temporada equilibrando perfeitamente o drama humano com o thriller, como foi a relação com os criadores de «A Unidade»?
Marian Álvarez: O que foi fantástico foi o encaixe da acção com a realidade destes personagens e creio que é isso que eleva a série. Houve um segundo realizador envolvido, o director da segunda equipa de realização que é o Oscar Santos, foi com ele que fui rodar à Nigéria, ele é fantástico. A verdade é que o Dani é muito talentoso sendo muito fácil de trabalhar com ele, é carinhoso e calmo, deixa-nos improvisar e permite-nos propor coisas e mesmo alterar alguns aspectos, desde que não fugamos da linha narrativa. É uma trip trabalhar com ele. Via-o sempre muito tranquilo no meio da rodagem, com helicópteros e uma enormidade de figurantes a passar por detrás dele, e o Dani dava-nos uma grande segurança ao vê-lo assim tão calmo. Penso que é a principal razão de tudo ter saído tão bem na série, até as coisas mais impressionantes ao nível das cenas de acção. Ele é alguém que sabe, controlou e manejou tudo e isso trouxe-nos uma serenidade que é maravilhosa.
Como foi a reação à «A Unidade»?
Marian Álvarez: A realidade é que tem corrido muito bem a exibição da série, teve muito impacto. Como dizias antes, temos um problema em Espanha com o terrorismo, mas nunca antes tinha sido feita uma série tão real sobre o terrorismo. E nota-se que a Unidade real colaborou activamente connosco na produção desta série. As críticas foram muito boas e por isso é que estamos a fazer a segunda temporada. Foi fenomenal, e a série tem sido vista em todo mundo.

Quais são as memórias que carrega consigo desta experiência? Em particular os sacrifícios diários de homens e mulheres para manter as pessoas a salvo?
Marian Álvarez: Eles [os elementos da unidade de antiterrorismo] colaboraram connosco e tivemos oportunidade de os conhecer, inclusive eles estavam presentes por diversas vezes durante a rodagem. Creio que os criadores tiveram uma relação mais estreita com eles. O Luis Zahera, que interpreta na série o personagem Sérgio, chegou a viver na casa do seu alter-ego e foi trabalhar com ele. O Dani participou numa missão da unidade de antiterrorismo para deter alguém. Foi crucial essa colaboração para trazer o realismo para os personagens da série que são baseadas em pessoas normais que fazem coisas extraordinárias. Eles são agentes que têm de chegar antes que se cometa o delito, ao contrário da maioria do trabalho policial, o seu êxito baseia-se em que nada possa se transformar numa notícia. Só se torna uma notícia quando as coisas correm mal, quando não podem impedir um atentado, por exemplo. Aquilo que estes agentes fazem todos os dias isso não sai em nenhum lado. São pessoas muito interessantes e vivem muito próximos da violência e do perigo, é complicado viver assim. Eu sempre disse que se fosse polícia seria um deles, porque eles também são um pouco actores, porque se infiltram e fazem imensas coisas diferentes, admiro muito o seu trabalho.
Considera «A Unidade» um dos seus trabalhos mais marcantes?
Marian Álvarez: O filme «La Herida» (2013) foi um momento de inflexão na minha carreira, com os prémios que recebi com essa interpretação, o Goya, a Concha de Prata e a nomeação aos Prémios do Cinema Europeu. Mas a «A Unidade» foi sem dúvida uma das experiências mais intensas da minha carreira. Mas, quando olho para trás, estou muito orgulhosa da carreira que tenho como actriz. Não podemos fazer muito em Espanha, não temos uma indústria como nos Estados Unidos, fiz o que me deixaram fazer e estou muito contente com as coisas que consegui fazer.
«A Unidade» é exibida todas as segundas-feiras às 22h50 no canal AXN.