As profundezas da massa oceânica escondem muitos segredos, entre eles as aventuras que se seguiram ao bem-sucedido «À Procura de Nemo» (2003). Dory é, desta vez, a protagonista de uma nova incursão acidental fora do Oceano. A sua fraca memória, que há 13 anos proporcionou momentos bem divertidos, é, em «À Procura de Dory» (2016), também fonte de preocupação: conseguirá Dory reencontrar – sem se esquecer pelo caminho – os pais e, após uma sequência de azares, Marlin e Nemo?
Suceder a «À Procura de Nemo» não se adivinhava fácil: coroado com o Óscar de Melhor Filme de Animação, o filme marcou uma geração de crianças, hoje adolescentes ou jovens adultos, como antes o tinham feito «O Rei Leão» (1994) ou «Mary Poppins» (1964). Com a storyline de 2003 aparentemente sem pontas soltas, foi a personagem mais esquecida do cinema (mas uma das mais lembradas), Dory, a justificar um regresso ao passado. Pela terceira vez, um êxito da Pixar tem uma sequela focada numa personagem secundária do primeiro filme – já acontecera antes em «Carros 2» (2011) e «Monstros: A Universidade» (2013).
Angus MacLane é um estreante na realização de longas-metragens, mas Andrew Stanton já tem uma reputação a defender. Depois de vários créditos em argumento, entre eles na trilogia «Toy Story», o norte-americano estreou-se nas longas de animação em «Uma Vida de Insecto» (1998) e, desde então, o sucesso tem sido notório, sendo, por exemplo, o responsável pelo oscarizado «WALL·E» (2008). Tal como em «À Procura de Nemo», Andrew assina também a história original, cuja acção tem lugar um ano depois.
Revemos o primeiro encontro entre Dory e Marlin e ficamos a saber que, nessa altura, ela estava perdida e desesperada… mas entretanto esqueceu-se disso. No primeiro filme, Sidney parecia cada vez mais inalcançável, mas em «À Procura de Dory» os nossos aventureiros não tardam a chegar ao Marine Life Institute, na costa californiana, onde Dory garante que vivem os pais. Mas já se sabe: quando tudo está a correr demasiado bem, é certo que vai acontecer uma tragédia. Esta estratégia é constante na sequela, que vive um ambiente dual quando comparada com o filme que a antecedeu. Os desafios são aparentemente mais difíceis do que aqueles que Nemo enfrentou mas, em contrapartida, são ultrapassados mais facilmente. No entanto, será quantidade sinal de qualidade?
«À Procura de Dory» prometia muito e, em parte, cumpriu: o passado de Dory ganhou uma nova dimensão, mas o que recebemos em amplitude narrativa perde-se depois em densidade dramática. As novas personagens trazem sobretudo humor e apoiam-se muito no discurso familiar e na auto-estima, só que acabam a meio do caminho, muito por culpa das resoluções rápidas e da tentativa de imitar (a uma distância segura) a fórmula de sucesso de 2003. Demasiado dependente do discurso, o filme peca pela sua previsibilidade e desafios complexos que, em vez de aumentarem o suspense, contribuem para que a sequela se perca no exagero.
Título original: Finding Dory Realização: Andrew Stanton, Angus MacLane Vozes: Ellen DeGeneres, Albert Brooks, Ed O’Neill, Kaitlin Olson, Diane Keaton, Idris Elba, Dominic West, Sigourney Weaver Duração: 97 min. EUA, 2016
[Texto originalmente publicado na Revista Metropolis nº37, Abril 2016]
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