«A Lenda do Dragão» foi uma das surpresas do Verão de 2016. Sem dúvida um dos pontos altos numa época estival marcada pela aridez e repetição criativa de inúmeros blockbusters. Com encanto e ingenuidade, a Disney criou uma obra que combinou duas facetas: por um lado, um regresso ao passado, a aposta nos sentimentos e um toque de nostalgia; por outro, a imersão no presente da tecnologia digital. Esta eficaz combinação resultou em 90 minutos onde o imaginário se torna real.

«A Lenda do Dragão» é um parente afastado da versão de 1977 («Meu Amigo o Dragão»), é livremente inspirada pela história da relação entre um rapaz órfão e o seu melhor amigo, um dragão. O argumento pega na ideia original e torna-a numa experiência fantástica e, claro, após o fenómeno de «A Guerra dos Tronos» colocar um dragão é meio caminho andado para o sucesso garantido, mas é o sentimento e a emoção que corre bem forte nas veias deste filme. Os dois distintos protagonistas, o jovem órfão, Pete (Oakes Fegley), e o dragão Elliot, que não é falante mas tem expressões que dizem um mundo, vão estar ligados por uma grande amizade e um sentido de proteção mútua. É algo simplesmente maravilhoso que se consiga fazer esta conexão entre um menino real e uma figura digital que se traduz em toda a plenitude visual e emocional da obra.

A história é relativamente simples, um acidente automóvel deixa ao abandono Pete, uma criança de quatro anos que se vê sozinha na floresta. Depois de perder os pais no desastre, e quando ameaçado por uma alcateia de lobos, o jovem é salvo por um dragão. Estabelece-se uma longa relação que é interrompida quando, cerca de cinco anos mais tarde, Pete é encontrado por Grace (Bryce Dallas Howard, presença simpática e em tom maternal), uma guarda-florestal com missão de proteger a floresta de madeireiros manhosos.

Há igualmente uma chamada de atenção para a responsabilidade ecológica nesta narrativa da Disney, o estúdio não perde o seu sentido de moralidade e pedagogia para com as gerações vindouras. Após o “resgate” forçado de Pete, o menino selvagem chega à cidade e depara-se com o medo do mundo civilizado e a distância do melhor amigo. Desaguamos num pequeno mas delicioso desempenho de Robert Redford no papel do pai de Grace e senhor que guarda os segredos da floresta.

Pelo meio, uma série de peripécias vão envolver Pete e Elliot, ambos procuram o seu lar e uma família, mas tentam proteger-se mutuamente de pessoas que por vezes, na sua ignorância e a ganância, atacam o desconhecido.

«A Lenda do Dragão» é uma pequena maravilha do cinema para toda a família, um filme que bebe dos clássicos da Disney, um estúdio que se lança em todas as frentes e que raramente se engana na função primordial de dar espectáculo e entreter o espectador.

Título original: Pete’s Dragon Realização: David Lowery Elenco: Bryce Dallas Howard, Robert Redford, Oakes Fegley, Wes Bentley, Karl Urban. Duração: 102 min. EUA/Nova Zelândia, 2016

[Crítica originalmente publicada na revista Metropolis nº41, Agosto 2016]

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