Piero Messina nesta longa-metragem de estreia possui a mesma veia e o virtuosismo visual que encontramos na obra de Paolo Sorrentino. Messina foi assistente de realização de Sorrentino. Essa aprendizagem é muito útil num filme construído na dicotomia das imagens e a alma contrastante das personagens centrais. A acção desenrola-se na Sícilia na semana da Páscoa (não é acidental), uma mãe (Juliette Binoche) explora a presença da vibrante ex-namorada (Lou de Laâge) do filho que surge na villa da Sicília esperando encontrar o objecto amado. O momento prova ser ad eternum mas estabelece uma cumplicidade e uma troca de energia que vai alimentar um vazio. Entramos num sedutor jogo de ocupação da memória de alguém que se ama e desaparece. A personagem de Binoche é a encarnação da dor, acaba por encontrar nesse poço de beleza e juventude uma forma de negar as evidências numa bela encarnação de Lou de Laâge que mostra que é muito mais do que uma mulher de uma beleza superlativa quando chegamos ao clímax dramático. O filme é igualmente uma passagem de testemunho entre o presente e o futuro, quer de personagens quer das duas actrizes francesas. «A Espera» é um belíssimo exercício sobre a dor e a vida que prevalece depois da morte na revelação de um promissor realizador italiano com um tremendo sentido estético na exploração de sentimentos universais.

*«A Espera» estreia em Novembro na HBO Portugal.

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