A METROPOLIS participou numa conversa digital com alguns dos intervenientes de «Magic of Disney’s Animal Kingdom», uma das próximas apostas do Disney+. A série documental mostra os bastidores dos parques Disney e dos seus animais, com um detalhe nunca antes visto. Com narração de Josh Gad, a série tem estreia marcada para esta sexta-feira, 25.
Participantes:
Joe Rohde, Walt Disney Imagineering, Portfolio Creative Executive
Mark Penning, Vice-Presidente, Disney’s Animals, Science and Environment, Disney Parks
Dan Fredholm, Médico Veterinário
Rachel Daneault, Animal Manager
A primeira pergunta é para o Dr. Mark Penning e para o Joe: com milhares de animais e centenas de espécies no Disney’s Animal Kingdom, como foi o processo de seleção das histórias a contar na série?
Mark: Se eu puder responder a essa para começar… As filmagens tiveram lugar aqui, no Disney’s Animal Kingdom Theme Park, no Disney’s Animal Kingdom Lodge e também no Seas with Nemo and Friends at EPCOT. Temos uma seleção muito ampla de espécies animais e indivíduos que têm histórias para contar. Construímos, sobre isso, o nosso desejo de mostrar as relações incríveis de confiança entre os animais e as pessoas que tomam conta deles, e quão dedicados estamos a querer salvar estes animais na vida selvagem. E tudo está relacionado com a forma como contas estas histórias, e é aí que o Joe e a sua incrível equipa entram em campo.
Joe: Acho que o core da série é mostrar a parte que não vês – o cuidado. E quando dizemos cuidado, ele manifesta-se de várias maneiras. Há as atividades, as coisas que as pessoas fazem. Mas, ainda mais importante, assim como nós designers nos preocupamos com a história que contamos, há um cuidado emocional e real aqui. A série é, na verdade, sobre emoções, sobre o investimento emocional que as pessoas na vida destes animais.
O que torna o Animal Kingdom diferente de outros santuários de animais e zoos espalhados pelo mundo?
Joe: Acho que, primeiro, há um nível de narrativa teatral. Nós enquadramos todas as experiências dos animais dentro de uma experiência temática e narrativa. Não se trata apenas de apresentar os animais. É a experiência de estar num lugar repleto de histórias em que, quando finalmente se veem esses animais, o momento é preenchido com um significado adicional.
Mark: Sim, obrigado Joe. Posso começar por aí. Sou veterinário: entendo os cuidados com os animais, e o que o Disney’s Animal Kingdom me mostra são as incríveis relações entre as pessoas e os animais. A paixão que as pessoas têm por contar histórias sobre esses animais, como trabalhamos com o Fundo de Conservação da Disney para proteger esses animais na selva e os habitats de onde eles vêm, e a maneira como contamos a história e vos “mergulhamos” completamente nesta história, torna tudo algo único para mim.
A próxima pergunta é para o Joe. Que tipo de coisas é preciso ter em mente quando se faz o design de um parque temático, que deve também funcionar como um santuário animal, e que não seriam necessárias quando se faz o design de outros parques?
Joe: Bem, a presença de animais vivos é completamente penetrante. Não acaba nas áreas onde vemos os animais. A presença de animais define toda a experiência do Animal Kingdom. Influencia o estilo com que tratamos os edifícios, a forma como colocamos o pavimento. Influencia tudo. Mas quando começamos com as áreas dos animais, estamos a começar com o animal. O que é que o animal quer? O que é necessário? Como é que ele se move? Como é que vive? Tudo isso é consertado antes de começarmos a nossa parte do design. Devemos criar um lugar onde o animal se sinta em casa. Então, a próxima pergunta que temos que nos fazer é, se tudo isso é verdade, de que maneira podemos interagir, ver e experimentar este lugar sem interferir com isso. Depois, como podemos incluir isso numa história que traz maior compreensão, maior significado emocional, maior impacto, do que simplesmente ver o animal? Estamos a afastar-nos do animal em si, mas isso de facto influencia tudo no parque inteiro, quer veja o animal ou não, porque, no final das contas, tudo o que se experimenta conduz a um momento onde se encontra um animal.
Agora Dr. Dan Fredholm e Rachel. Temos a certeza que adoram todos os animais, mas há alguns com quem tenham desenvolvido uma relação especial, e que vos tenham surpreendido especialmente?
Rachel: Acho que, para mim, são os gorilas. E vão poder ver-me com um gorila em particular, num episódio de «Magic of Disney’s Animal Kingdom». É o silverback do nosso grupo familiar e é engraçado, porque o que me surpreendeu foi que eu nunca quis trabalhar com gorilas. E agora tê-los como uma definição da minha carreira; eu trabalho com gorilas aqui, mas também posso falar com os nossos visitantes sobre gorilas que estão num orfanato na República Democrática do Congo que a Disney ajudou a construir e agora apoia. É um círculo completo, começa com um animal, mas fiz uma volta de 360º e consegui fazer tudo na Natureza e por meio da conservação também, então acho que os gorilas em particular mudaram realmente a minha vida.
Dan: Para mim é difícil escolher um animal favorito, porque temos vários que são maravilhosos. Tenho um lugar especial no meu coração para o Casanova, um calau que vive no Disney’s Animal Kingdom Lodge. É extremamente carismático, é um personagem, e sempre que lá estou, dou por mim a olhar para ele, a ver como ser comporta e move pela savana. Mas, na realidade, temos muitos animais incríveis. Um deles, aqui, é o Tito. É um dos nossos gambás, que vive na Conservation Station – Affection Section. Acho que o que me surpreende e nunca para de surpreender é como estes animais podem ser participativos nos seus cuidados médicos. Basicamente, posso estar aqui com o Tito, posso apalpar, examinar, inspecionar as orelhas, os olhos, enquanto ele está a ter um pequeno snack e sem perceber realmente o que está a acontecer. Então isso permite-nos ter um excelente nível de saúde animal, de animais pequenos como ratos-toupeiras-pelados até aos nossos elefantes africanos.
Joe, supervisionaste a criação do Disney’s Animal Kingdom, deves saber tudo sobre ele. Houve alguma coisa que te surpreendeu ou que aprendeste pela primeira vez durante a produção desta série?
Joe: Oh, meu Deus. Há tantos! Quer dizer, o foco do meu conhecimento é o design físico da frente da casa. Aprendo o máximo que posso sobre animais e como eles se relacionam. Não quero entrar em nenhum detalhe em particular sobre o que estará na série, mas acho que o que é sempre surpreendente de ver é o grau de precisão com que estes animais podem participar, conectar-se e comportar-se, de modo a que possam ser cuidados, que possam permanecer tão selvagens quanto possível. É impressionante até mesmo só ver, será que vão acontecer? E então temos um momento em que um animal é levado a este ponto de interação que é incrivelmente preciso. Isso é realmente surpreendente de ver.
Qual foi a parte mais memorável de trabalhar no Animal Kingdom?
Mark: Eu nasci na África do Sul. Passei muito tempo, enquanto crescia, no ambiente selvagem e a trabalhar com leões e elefantes na selva. Vir para a Disney levou tudo para um nível que nunca tinha visto antes, em lado nenhum. É absolutamente excecional, o grau de cuidado animal, a qualidade dos cuidadores profissionais, o elemento de design que os nossos parceiros da Disney Imagineering trazem, é algo nunca antes visto.
Dan: Para mim, o que se destaca é o grande nível de trabalho de equipa que temos todos os dias aqui. Não é segredo que temos um equipa grande, temos mais de cinco mil animais. Fico constantemente maravilhado, o meu coração cheio, quando vejo como nos unimos, literalmente todos os dias, para continuar a elevar a barra no nível de cuidado… Enquanto colocamos o coração e a alma no que fazemos.
Rachel: Acho, para mim, é poder ter uma grande influência para lá desta esfera. O Dan disse que trabalhamos como uma equipa, mas também estamos a trabalhar para um bem maior. Temos o Disney Conservation Fund e financiámos 100 milhões de dólares desde 1995, e isso é brutal. Ser capaz de fazer parte disto e apoiar o que é realmente importante para mim, porque estou a trabalhar com estes animais, mas também estou a olhar pelo bem maior para todos os animais.
Joe: Fisicamente, quando andamos pelo parque há tantos espaços, demasiados para enumerar, onde podemos estar e pensar “oh meu Deus, eu podia estar ali, eu podia estar naquele lugar”. É tão estranhamente real, e podia ser apenas uma ilusão. Mas não é, por causa do programa de conservação, pela ação que acontece nos bastidores. Há uma forma em que o parque é estranhamente real. Prolonga-se e toca o mundo, e bem atrás dessa membrana de faz-de-conta está tudo isso que é super, super real que está a acontecer; então a estranha sensação de que é real “vaza” de cada canto deste parque.
Dr. Dan e Rachel, têm histórias engraçadas relacionadas com o vosso trabalho com os animais?
Rachel: Acho que há sempre histórias engraçadas quando estás a trabalhar com estes animais. Eles estão sempre a fazer alguma coisa. Eu falo sempre muito sobre o Gino, e estar com ele, acho que uma das coisas que realmente me surpreendeu e apanhou desprevenida… Um dia estávamos a treinar e ele é muito inteligente e tinha acabado lhe pedir para me dar um comportamento, e ele começou a criar os seus próprios comportamentos. E foi um sinal de inteligência superior. Fiquei sem palavras e até fui abordada por outras pessoas porque ouviram falar de Gino. Acho que coisas deste género acontecem aqui todos os dias e é difícil escolher apenas uma, mas espero que vejam alguns destes momentos na série.
Dan: Sim, concordo totalmente, acho que é difícil escolher um. Todos os dias há algo engraçado ou que nos surpreende, que um animal faz. Possivelmente o que se destaca mais para mim, e espero que possam ver isso quando assistirem à série, são as minhas interações com a girafa Kenya. A Kenya é uma das nossas girafas; tentamos garantir que há um programa robusto para a sua saúde e gastámos muito tempo a tentar que ela participasse no cuidado das suas patas. Aprendi muito rapidamente que as girafas fazem coisas na sua própria velocidade. Podes tentar, mas não podes realmente obrigar uma girafa a nada, então o facto de que gastamos semanas atrás de semanas a trabalhar com ela, de forma a que ela seja capaz de participar, e eu possa aparar os seus cascos. Por vezes há muito esperar e não há muito a acontecer, é apenas um reforço do que todos nós estamos dispostos a fazer para tornar a vida destes animais fantástica.
O que esperam que a audiência retire depois de ver a série?
Mark: Adoraria que os espectadores reconhecem o cuidado incrível que tem lugar no Disney’s Animal Kingdom Theme Park e que viessem depois ver por eles mesmos. Mas também para entenderem porque fazemos isto, porque somos apaixonados por proteger a vida selvagem e os espaços selvagens. E se pudermos apenas indagar, inspirar as pessoas a pensarem sobre a Natureza e a cuidarem da Natureza no seu quintal, considerarei isso um grande sucesso.
Joe: Sim, Animal Kingdom não é apenas sobre animais. É sobre humanos e a nossa relação com os animais. Algumas dessas relações são boas e outras não, e queremos reflectir sobre todas essas histórias. Acho que esta série, é um local onde quanto mais sabemos, mais enriquecedora será a experiência do local. Então simplesmente por ver a série, a próxima vez que vierem aos parques, a vossa experiência vai ser mais completa, mais rica e mais gratificante.
Dan: Sim, digo o mesmo que o Joe. Acho que uma das coisas mais importantes, que eu espero que as pessoas retirem desta série, é a ligação entre humanos e animais. Acho que qualquer pessoa que tenha um animal de estimação percebe quão forte pode ser essa ligação, há muita gente que até os compara a crianças. E é mais simples aqui, nós amamos estes animais e há ligação real, palpável, que esperamos que passe quando assistirem à série.
Rachel: Para juntar àquilo que já disseram, espero que as pessoas realmente percebam que o que estamos a fazer aqui é bastante moderno. Somos considerados líderes nesta indústria e espero que isso passe com a série, porque estamos a fazer coisas realmente incríveis. E estou muito esperançosa de que as pessoas sintam isso com o programa, porque há um sentimento que vem com isso, e estou muito orgulhosa disso e espero que as pessoas entendam isso.
Com o treinamento moderno do comportamento animal focado nos animais a fazer as escolhas, que animais foram os mais desafiantes de persuadir a tomar essas decisões?
Rachel: Dan,acabaste de falar de um.
Dan: Sim, isso encaixa com a girafa Kenya. Ela é uma criatura belíssima que sabe exatamente o que quer fazer a cada momento do dia e foi um grande sucesso para nós. Foi a primeira girafa a que fomos capazes de aparar os cascos e, sem qualquer necessidade de sedativos ou anestesia, e ela pode comer snacks o tempo todo. Foi bom para eu perceber que sou apenas uma pessoa – estou aqui apenas para a ajudar e fazer as coisas ao ritmo dela. Então esse, para mim, é o exemplo perfeito.
Rachel: De todos os animais com que trabalho, com que trabalhamos no que se chama contato protetor. Então eu nunca entrei com eles, e isso é só outra camada no topo das coisas, porque é 100 por cento a escolha do animal e eles nem sequer têm de olhar para mim. Mas o facto de que fomos capazes de fazer todas estas coisas inovadoras, como ultrassons cardíacos em gorilas, e isso é porque esses gorilas vêm ter connosco e nos deixam pôr gel no seu peito e uma sonda, e isso realmente fala sobre essa parte do relacionamento. Sem essa parte, não conseguimos aquele voluntariado para chegar à rede para treinar. Então acho que, para mim em particular, é realmente ter uma ligação com estes animais e garantir que eles querem ir lá, porque é totalmente a sua decisão.