«A Agente Vermelha» incendeia o ecrã, tanto que a própria história fica ofuscada. Dominika Egorova (Jennifer Lawrence) era uma jovem bailarina de Bolshoi, uma promessa cheia de talento que é vítima de um acidente e perde a carreira. Entretanto, é recrutada por uma espécie de escola de agentes secretos, um serviço de inteligência russo em que poucos sobrevivem, sendo forçados a usar o corpo como arma. Na sua primeira missão, Dominika tem como alvo Nate Nash (Joel Edgerton), um agente da CIA, colocando em causa a segurança de ambos os países.
Em «A Agente Vermelha» Francis Lawrence volta a dirigir Jennifer Lawrence, tal como o fez nos últimos filmes da saga The Hunger Games, em que a atriz conseguiu mostrar que um filme de ação pode sobreviver e brilhar tendo uma mulher como protagonista. Contudo, nesta nova obra, não vemos bravura, revolta ou coragem, mas violência, muita violência, e um esbanjar de sexualidade – nem sempre pertinentes. Lawrence, o realizador, opta por estes artifícios em vez de aprofundar a dimensão intrínseca da personagem – e o filme perde com isso.
Por sua vez, Lawrence, a atriz, não falha e entrega uma interpretação marcante e prova a sua versatilidade, não fosse ela, claramente, uma das melhores atrizes da sua geração. Todavia, ficamos sempre com a sensação de que a atriz tinha muito para dar mas que a personagem assim não permitiu. Destaque para um seguro Joel Edgerton e um carismático Matthias Schoenaerts, ambos, porém, com pouco espaço tendo em conta todo o palco que é dado à personagem principal.
Não é de todo a primeira vez que vemos um thriller, mais concretamente um filme de espionagem, protagonizado por uma personagem feminina. Recentemente, o Cinema ofereceu obras como «Salt» (2010), com a majestosa Angelina Jolie, e «Atomic Blonde» (2017), com a enérgica Charlize Theron. «A Agente Vermelha» fica, todavia, uns furos abaixo comparando com ambos. Centrando-se no conceito da existência de uma Guerra Fria contemporânea, a obra dispersa e não cativa, exagerando no choque e poupando na profundidade. Além disso, tratando-se de um thriller, a imprevisibilidade é demasiado residual, sendo poucos os momentos que conseguem surpreender. No fundo, o que eleva os filmes é mesmo uma boa história e, neste caso, «A Agente Vermelha» tem pouca cor.
Título original: Red Sparrow Realização: Francis Lawrence Elenco: Jennifer Lawrence, Joel Edgerton, Matthias Schoenaerts. Duração: 140 min. EUA, 2018
[Crítica publicada originalmente na revista Metropolis nº 58, Março 2018]