Ao décimo filme, Bond encontrou um porto de abrigo. Treze anos depois de «007 – Contra Goldfinger», o franchise deu um pontapé no azar e abraçou a sorte de fazer um filme que recolocaria o agente no trilho certo. Sem desprimor para os restantes ilustres 21, «007 – O Agente Irresistível» consegue atingir uma posição de destaque, assumindo-se como um título crucial na cronografia de James. Mas, a concepção esteve longe de ser um mar de rosas. Primeiro, o afastamento do produtor Harry Saltzman, que na altura atravessava graves constrangimentos financeiros, forçado a vender a sua parte do franchise em 1975 por 20 milhões de libras. Apesar de o produtor ter abandonado o barco, foi a cadeira de realizador que se revelou mais difícil de preencher. Spielberg era um dos eleitos, contudo, durante a pós-produção de «O Tubarão», o realizador terá dito que preferia “ver o que acontece com o filme do peixe”. Guy Hamilton teve o lugar preenchido, mas quando lhe disseram que podia realizar «Super-Homem», deixou a cadeira vazia. A meio da viagem, Richard Donner havia de ocupar a do homem de ferro, e Lewis Gilbert aquela que Hamilton tinha deixado vaga. No entanto, a redacção do argumento é que viria a revelar-se o maior de todos os berbicachos. Ian Fleming autorizou a utilização do título do seu romance, “The Spy Who Loved Me”, e nada mais. E, assim foi. Escrito, rescrito e escrito novamente mil e uma vezes, o guião deu voltas na gaveta até mais não. Mas, que abençoadas voltas. Gilbert acabou por realizar um filme onde a maioria dos elementos funciona, e os ingredientes que fazem a diferença estão presentes. É certo que a história não revoluciona, e está longe de ser uma pedrada no charco. Submarinos britânicos e russos com material nuclear desaparecem, e Bond é chamado a resolver o mistério ao lado de uma agente do KGB cujo amante ele matou. Sem complexos nem complexidades acessórias, este foi logo meio caminho andado para a química palpável entre James Bond e Anya Amasova. No geral, o filme destaca-se por ser uma brilhante combinação entre efeitos especiais avançados para a época, e um esforço pela humanização das principais personagens. O que nem sempre é fácil, dado que orçamentos exorbitantes não poucas vezes resvalam para areia colorida para os olhos de conteúdo duvidoso. Não foi o caso. «007 – O Agente Irresistível» teve o condão de dar primazia a uma história simples, e revesti-la de bons acompanhamentos. O vilão Jaws, o gigante de dentes afiados, é dos mais icónicos de sempre. A partitura de Marvin Hamlisch é a todos os níveis memorável. Roger Moore dá-nos aqui a sua melhor interpretação num filme da saga. O restante elenco não lhe fica atrás. Visualmente impressionante, a obra acaba por apresentar um admirável equilíbrio entre um romance de espionagem e um título de puro combate. O título da música principal do filme, cantada por Carly Simon, Nobody Does it Better, é apenas um dos muitos indicadores da obra que nos comprova, efetivamente, que Bond é o melhor dos melhores. Bruno Ramos
Título original: The Spy Who Loved Me Realização: Lewis Gilbert Elenco: Roger Moore, Barbara Bach, Curt Jurgens, Richard Kiel, Caroline Munro, Walter Gotell, Geoffrey Keen, George Baker, Michael Billington, Olga Bisera, Edward De Souza, Bernard Lee, Desmond Llewelyn, Lois Maxwell. Duração: 125 min. Reino Unido, 1977
Tema musical: “Nobody Does It Better” – interpretada por Carly Simon, letra de Carole Bayer Sager, orquestração de Marvin Hamlisch
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº2, Outubro 2012]
https://youtu.be/Ve7v5kL3MeE