Mais do que «007 – Ao Serviço de Sua Majestade», outrora amaldiçoado e hoje em dia quase unanimemente saudado como um dos melhores filmes da série de James Bond, «007 – Licença para Matar» é hoje o clássico oculto da saga cinematográfica do agente secreto com ordem para matar. Após um desinspirado 007 – Risco Imediato, o segundo título da curta vida de Timothy Dalton como Bond tem o lado sério, violento e muito negro que, uma década e meia depois, seriam ultra-elogiados em «007: Casino Royale».
Neste filme, a missão de Bond não está ligada ao MI6: é absolutamente pessoal, um acto de vingança contra um cartel de droga da América Central. O motivo? Nada menos que a violação e assassínio da noiva do seu amigo Felix Leiter, que perde uma perna e uma mão ao ser atirado aos tubarões. Nunca a série se aproximara tanto dos níveis de brutalidade de Ian Fleming, de que as fitas do anterior Roger Moore se tinham afastado em favor de um humor auto-paródico que retirara peso à personagem.
Dalton levou o herói demasiado a sério para o que era expectável na altura, e o público não correspondeu na medida habitual, cerceando por mais duma década a direcção mais realista que a série então tentava tomar. O sucesso da encarnação de Daniel Craig validaria o rumo que tentou seguir este «007 – Licença para Matar», que seria também o último filme da saga produzido pelo fundador Albert “Cubby” Broccoli. Luís Salvado
Título original: Licence to Kill Realização: John Glen Elenco: Timothy Dalton, Carey Lowell, Robert Davi, Talisa Soto, Anthony Zerbe, Frank McRae, Wayne Newton, Benicio Del Toro, Desmond Llewelyn, David Hedison, Robert Brown. Duração: 133 min. Reino Unido/EUA, 1989
Tema musical: “Licence To Kill” – interpretação de Gladys Knight, letra de Michael Walden, Jeffrey Cohen e Walter Afanasieff
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº2, Outubro 2012]
https://www.youtube.com/watch?v=GlyacuZs5kM