00:30 A HORA NEGRA

00:30 A HORA NEGRA

[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº11, Julho 2013]

A edição em Blu-ray de «Zero Dark Thirty», o prodigioso filme de Kathryn Bigelow sobre a captura de Osama Bin Laden, não apresenta qualquer extra. Num primeiro momento, somos levados a lamentar tal “austeridade”: se há filmes que podem justificar abordagens complementares, com ramificações políticas e mediáticas, este é, seguramente, um desses filmes. Em todo o caso, vale a pena acrescentar algo paradoxal: dir-se-ia que o filme pede para ser visto, não como uma investigação que se “completa” através de outras informações, mas sim como um objecto que contém todos os elementos necessários e suficientes para com ele lidarmos e pensarmos. Não é secundária tal questão, sobretudo se recordarmos algumas discussões algo panfletárias sobre a maior ou menor “veracidade” de alguns factos evocados. «Zero Dark Thirty» não é uma reportagem de televisão, supostamente escudada na sua “neutralidade”, mas sim um objecto de cinema que problematiza a própria produção de verdade. Nesta perspectiva, podemos considerá-lo um herdeiro da mais nobre tradição liberal de Hollywood, agora reformulada na vertigem do nosso séc. XXI. JOÃO LOPES

Título original: Zero Dark Thirty Realização: Kathryn Bigelow. Elenco: Jessica Chastain, Joel Edgerton, Chris Pratt. 142 min. EUA/Emirados Árabes Unidos, 2012